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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

É o fim da viagem, Sr. Trintignant

Hugo Gomes, 17.06.22

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Les plus belles années d'une vieThe Best Years of a Life (Claude Lelouch, 2019)

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Les plus belles années d'une vieThe Best Years of a Life (Claude Lelouch, 2019)

De “Il Sorpasso” a “Amour” é visível um percurso com vista direta para a Morte. Jean-Louis Trintignant o atravessou de vento em proa, falseando o seu destino ou operando como carrasco enviado pelo mesmo. Será que o anjo da Morte em “Amour” é aquele pombo invasor no set, em que o ator persegue calmamente, calculando com astúcia a emboscada? Tal não interessa por momentos, o dia é de tristeza, mas igualmente previsto, Trintignant em jeito conformista testemunhava a decadência com silêncio, a sua hora não tardaria a chegar.

Porém, seja Haneke, Risi, Bertolucci, Corbucci, Costa-Gavras, Kieslowski ou Truffaut, após a notícia da sua despedida a minha mente “voou” para Cannes de 2019, naquela exibição especial de “Les plus belles années d'une vie” de Claude Lelouch. Um filme que ninguém deseja falar, até porque Lelouch não entra nos livros canónicos ou simplesmente demasiado meloso para gostos mais requintados, mas é um olhar de um “velhote” sobre a velhice, e tratando-a como um digno fim às nossas vontades. Trintignant desempenhava um idoso, “aprisionado” na sua “casa de repouso”, que num reencontro com um antigo amor (uma gentil Anouk Aimée), a sua mente parte para intermináveis viagens, sempre com destino a uma nova oportunidade na sua frágil existência. É sim, uma obra desapegada de juventude mas que em si, requisita uma nova definição de jovialidade, uma segunda talvez, entendida como ressurreição. Contudo, nesse mesmo filme, um dos últimos da sua carreira, uma determinada sequência fala-nos ao coração. Monica Bellucci petrificada no tempo perante Trintignant, só os seus olhos se cedem ao sentimentalismo, um olhar carinhoso, sem condescendências, e simultaneamente reservando uma réstia de melancolia gerada no testemunho de um ente envelhecido, iludido quanto à sua permanência na vida. A sua personagem sabia, na perfeição, que por mais ultrapassagens que façamos, a Morte acabaria por nos apanhar.  

Jean-Louis Trintignant partiu hoje, a sua viagem (e que viagem!) chegou ao fim.

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Il Grande Silenzio / The Great Silence (Sergio Corbucci, 1968)

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Amour (Michael Haneke, 2012)

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Il Conformista / The Conformist (Bernardo Bertolucci, 1970)

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Il Sorpasso (Dino Risi, 1962)

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Trois Couleurs: Rouge / Three Colors: Red (Krzysztof Kieslowski, 1994)

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