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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

... e entraram num bar!

Hugo Gomes, 12.09.17

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Advertência: Apesar da temática invocada, "El Bar" não tem qualquer relação com o referendo sobre a independência da Catalunha e o conflito circundante. No entanto, é intrigante observar que, há alguns dias, a Guarda Civil apagou centenas de páginas de apoio ao referendo. Esta obstrução de informação, uma forma de censura dos tempos modernos, poderá refletir-se no encontro com a farsa na mais recente obra de Álex de la Iglesia. O medo como catalisador de submissão e o embuste devidamente agendado por organizações governamentais pintam um quadro perfeito dessa mesma incisão.

Em "El Bar", não testemunhamos nada relacionado com as nuances desta "Independência indesejada". Possivelmente, a alusão mais próxima será aos ataques de 11 de Março de 2004, um ato terrorista que incendiou os meios de comunicação em todo o mundo. Enquanto o resto do globo falava da autoria da Al Qaeda, os meios de comunicação estatais, assim como o governo em seus inúmeros relatórios e opiniões, apontavam o "dedo" para a ETA, apenas três dias antes das eleições espanholas.

Iglesia cria um filme sob o signo do medo e da fraude do sistema. No entanto, infelizmente, apesar da crítica tardia, nada salva "El Bar" de se tornar num mero subproduto subjugado às regras formais do seu subgénero. O realizador por detrás de alguns dos maiores êxitos do cinema catalão (como "El Día de la Bestia" e "La Comunidad") inicia com um plano sequência que serve como um catálogo vivo das personagens que nos acompanharão na restante hora e meia de duração. Depois de este leque de personagens entrarem num determinado bar e as portas se fecharem após um inesperado incidente, o espectador é imediatamente levado aos lugares-comuns. O perfil psicológico deste grupo é facilmente avaliado, e o dinamismo que poderia suscitar morre na praia quando a previsibilidade das suas caracterizações revela personalidades de cartão.

O psicótico de última hora, o sensato, a "final girl" (banhada em azeite!) e a suspeita crescente não nos surpreende. Desde os primórdios do filme de cerco, com grandes exemplos como "12 Angry Men", de Sidney Lumet, "El ángel exterminador", de Luis Buñuel, e mais recentemente "Buried", de Rodrigo Cortés, e "Mother!", de Darren Aronofsky, somos confrontados com um género preguiçoso e cada vez mais limitado. Até Álex de la Iglesia já tinha cometido tais atos. Sim, há esse elemento de medo, essa crítica tímida a um país que se revela através das suas ações, uma “ditadura disfarçada”. É uma pena que "El Bar" realmente careça de novas ideias, e de cinema, de preferência.