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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Dia do Trabalhado e tartes passionais!

Hugo Gomes, 13.02.14

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Baseado num romance homónimo de Joyce Maynard, “Labor Day” (“Um Segredo do Passado” como título português) remete-nos à depressiva Adele (Kate Winslet), que sofre com um inesperado divórcio, e o seu filho adolescente Henry (Gattlin Griffith), que parece viver somente para compensá-la do amor perdido que vivem na pacífica Holton Mills, Nova Hampshire, onde os dias de ambos são meramente rotineiros e solitários. Porém, em vésperas do Labor Day, um feriado nacional, Adele e o  filho são abordados num supermercado por um misterioso homem, Frank (Josh Brolin), um fugitivo à polícia que pede auxílio e abrigo de forma persuasiva, soando toda esta situação inicialmente como um sequestro. Depois de integrado e barricado na casa destes, aguardando o melhor momento para fugir, Frank começa a efetuar tarefas diárias para ocupar os seus dias e aos poucos começa a corresponder às necessidades matrimoniais, eventualmente perdidas, de Adele. Ambos envolvem-se, cedendo à paixão que os tornam decididos a lutar pelo futuro, mesmo que o trágico passado de Frank assombre o casal. Mas quanto mais tempo passa, mais difícil se torna para o ex-recluso ir-se embora.

É fácil para o espectador identificar os elementos de romance cor-de-rosa nesta intriga, a síndrome de Estocolmo agradavelmente recebida pelos contos amorosos de bolso é uma das cartas da obra literária e um forte trunfo da versão cinematográfica, se estivermos a confundir “Um Segredo do Passado” com o pseudo-romantismo “à la Nicholas Spark”. Mas decidido em contornar tal subgénero, Jason Reitman (realizador e argumentista) exerce um enorme esforço em conduzir o filme para um território mais autoral. Para isso reuniu um elenco capaz de transformar personagens aprisionadas a gestos e práticas em “personas” com o qual merecem a preocupação do espectador. Nesse aspeto, Kate Winslet e Josh Brolin compõem um trabalho individualmente fascinante, a primeira a corresponder aos balanços da sua composição e o segundo a transmitir mistério e aura paternal.

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Outro ponto transposto por Reitman é a tentativa de preencher “Um Segredo do Passado” com certo tom lírico, o qual podemos evidenciar em algumas sequências adversamente cinematográficas, com a tentativa de percorrer os territórios mais sensoriais descritos no livro (entre os quais o longo cozinhado da tarte, como exemplo). Ou seja, sente-se em toda a fita essa ambição de a tornar mais pessoal que mainstream, mais lírico que visual e por fim a conversão de material visto e revisto em dramalhões com fartura em algo sentido e dedicado. Nesses termos, Jason Reitman vinga-se em concretizar um filme denso e sim, multifacetado, equilibrando a vertente mais romântica com um suspense não convidativo no livro mas simbiótico no cinema.

Assim, temos material que chegue para nos sentirmos esperançados e na maior das hipóteses ingênuas quanto ao desdobramento do romance no cinema. Contudo, "Um Segredo do Passado" não é de todo uma obra finamente orquestrada, notando-se tiques nervosos em transmitir tal irreverência autoral – a sobreposição de Reitman a Joyce Maynard – como a falta de química entre Winslet e Brolin (uma das arestas mais promissoras) e o desempenho insonso por parte do jovem Gattlin Griffith, tendo em conta a relevância do seu papel. Apesar deste ser até à data o mais fraco filme do seu realizador, Um Segredo do Passado continua mesmo assim como uma preservação dos mais variados elementos do cinema de Reitman, filho do célebre Ivan Reitman, que cada vez mais se afirma como um sólido autor. Aliás, como se pode verificar nas sequências onde os jovens protagonizam a solo, Reitman é um primor a filmar tramas adolescentes e todas as suas convicções.