Dear Peter,
The Last Picture Show (1971)
Nickelodeon (1976)
Paper Moon (1973)
Targets (1968)
Texasville (1990)
Peter Bogdanovich na rodagem de The Other Side of the Wind (Orson Welles, 2019)
Ryan e Tatum O’Neal (pai e filha) pousados num quarto minguante, a imagem que definiu a minha descoberta ao universo de Peter Bogdanovich. Sim, universo, essa palavra tão vulgar hoje em dia graças à dominância industrial, porém, como o antídoto à mesma revelaria “gulosa” que iniciei a sua filmografia com “Paper Moon” (1973).
Para ser mais que exato (e meio amnésico), foi ao encontro de umas palavras, mas não preenchidas com face (a minha mente já me trapaceia ao longo destes anos), proclamadas num programa de televisão em alturas da minha pré-adolescência - “Nos anos 70 era possível produzir filmes pequenos no meio de grandes produções. Bastava ir a um estúdio e pedir - preciso de ‘x’ dólares - e assim nascia um ‘Paper Moon’ [talvez seja devido a essa pedinchice o filme solicita os seus 2.000 dólares num dinner e acompanhado por um Coney Island]”. A minha curiosidade em tal título, bem catita aliás, levou-me também ao seu encanto, a uma busca incessante nos videoclubes da zona.
Mais tarde regressei a Bogdanovich com “Nickelodeon” (1976) projetado como exemplo didático da génese das “majors”, a fim de ilustrar a cadeira de História de Cinema na universidade, episódio que serviu de trampolim para saltar de cabeça nalguns dos seus mais eternizados trabalhos (“Targets”, “Texasville” e sem a mínima dúvida, “The Last Picture Show”). Nos últimos anos, via em Bogdanovich uma espécie de vulto de um tempo passado, onde o cinema americano tinha a sua suposta liberdade temática e formal e igualmente uma decadência algo mágica, um assombroso prenúncio do futuro citado com nostalgia e candura de revivência. Além disso, era aquilo que eu chamava de “criatura cinematográfica”, rodeado de histórias e personalidades dissociáveis dessa igualmente dinastia. Todo ele respirava cinema. Todo invocava a esse cinema, perdido, um por um. A Bogdanovich agradeço as memórias, o seu cinema e o cinema dos outros (um muito obrigado por teres levado avante o legado de Orson Welles num possível “The Other Side of the Wind”, tão teu como dele).
Esperemos que o último “picture show” não morra com ele … não sou de saudosismos nem sequer sou ingrato, o passado já lá vai, mas o Cinema continua, e se continua!
Peter Bogdanovich (1939 - 2022)