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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Conheçam o vosso criador!

Hugo Gomes, 09.06.14

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Que segredos obscuros se escondem na vastidão do espaço? Será que a nossa origem está associada a essa imensidão estelar? Será o Darwinismo, concebido pelo naturalista Charles Darwin, a teoria mais concisa sobre o nosso surgimento? Qual é a nossa finalidade no planeta Terra? Estas são algumas das perguntas, entre muitas outras, que Ridley Scott incentiva na oculta jornada de "Prometheus", mas … “spoiler alert” … nenhuma delas será verdadeiramente respondida. 

O que poderemos encontrar na nova obra de Scott? Embora não possa responder a esta pergunta em definitivo, adianto que se trata de um filme de ficção científica que funciona como um 2 em 1. Primeiro componente, a tão ansiada prequela do universo "Alien", transportando-nos para 1979, onde nos deparamos com as primeiras imagens de Ellen Ripley e a sua tripulação no original "O Oitavo Passageiro" [o desusado título português], quando exploram uma nave espacial extraterrestre despenhada no planeta LV-426. Nessa sequência, assistimos a um cadáver alienígena com um crânio quase elefantino e um misterioso buraco no peito, sugerindo que algo “escapuliu” dali. Esta criatura cadavérica, que nunca mais surgiu na série, foi apelidada de "Space Jockey". A criação de H.R. Giger, responsável também pela decoração do seu túmulo e pela criatura estrelar da franquia, terá um papel importante em "Prometheus", visto o suposto “e tudo aconteceu” relatará o mistério daquele extraterrestre e a nave incluída.

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Ridley Scott prepara-se para nos levar 37 anos ao passado dos eventos de "Alien". Aqui, seguindo as pegadas de uma dupla de arqueólogos (Noomi Rapace e Logan Marshall-Green), autores de uma tese de que a espécie humana teve origem espacial, concebido pelos chamados "Engenheiros". Através de pistas encontradas em inúmeras civilizações primitivas da Terra, conseguem decifrar o suposto local onde residem estas alegadas criaturas "divinas". Após despertarem o interesse de um magnata moribundo, integram uma expedição espacial com a finalidade de conhecer os nossos criadores. 

O título "Prometheus", que é também o nome da nave da nossa tripulação protagonista, é previsivelmente uma alusão ao mito do titã grego expulso do Olimpo e condenado após tentar igualar os seres humanos aos deuses. A lenda determina o sentido nesta jornada em busca do conhecimento do nosso Deus e das verdadeiras motivações destes cientistas perante tal reunião. Scott manobra-se inteligentemente ao replicar tal ideologia com o androide a bordo, David (interpretado ambiguamente por Michael Fassbender), com ambições de igualar-se aos seus criadores, os humanos, numa evocação aos replicantes de outro filme dirigido por Scott, "Blade Runner" (1982), confirmando assim a combinação destes dois universos.

A mensagem de "Prometheus" pode soar, e muito, à Cientologia, mas tem a proeza de não se vender enquanto propaganda tal como fez o “horripilante” "Battlefield Earth" (Roger Christian, 2000) ainda hoje a pedra no sapato na carreira de John Travolta, como também em operar no oposto desse beato fascínio. Ridley Scott concebe "Prometheus" como um atmosférico thriller habitado nas lides da ficção científica, sempre preservando a sua teia conspirativa e misteriosa, uma astúcia algo surpreendentemente vinda de um realizador que após “Thelma & Louise” abandonou a coragem autoral e dançou em nome do dinheiro fácil. O filme é um gesto de bravura, porém, impróprio para “mesquices” de continuidades e na ordem estrutural de um argumento funcional (de Damon Lindelof, um dos autores da série "Lost", e Jon Spaihts), por outras palavras, a narrativa ostenta inúmeros e por vezes incomodativos “buracos”.

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"Prometheus" arranca nessa expedição inicialmente entusiasmante, o fôlego esgota-se gradualmente quando tenta a todo custo corresponder à ânsia dos fãs, deixando pelo caminho uma trama que se desleixa a toda a velocidade. Dito isto, pode parecer que o trabalho de Ridley Scott é uma banhada conceptual, mas na verdade, exibe qualidades que o destacam das maiorias dos congêneres contemporâneos, e que por sua vez opera como um blockbuster de maiores desafios que o normal da indústria, porque por baixo das suas gorduras dispensadas e da lógica contestada existe uma estrutura digna dos mitos, criações ao encontro do seu criador, cujo encontro é estritamente proibido, ou os Deuses de um velho evangelho, crueis, embebidos pelo seu Poder.  

Não é perfeito, mas, assumindo a postura de Joe E. Brown perante um Jack Lemmon que se auto-desmascara para se livrar de um matrimónio forçado na célebre punchline de “Some Like it Hot” (Billy Wilder, 1960), tal não importa.