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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Confia ...

Hugo Gomes, 11.03.25

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O que impressiona em “Confidenza” não é o seu constante e hercúleo equilíbrio em manter a sua atmosfera de suspeita em notas altas, nem sequer do desespero nunca escondido através do olhar de Elio Germano (um ator notável, diga-se de passagem), e sim, em subverter as expectativas e a recusa de saciar facilmente as fomes dos seus espectadores. 

Em dias como estes, em que notamos uma indiferença naquilo naquilo que o espectador vê ou deixa de ver, exigindo dos seus filmes um cumprimento para a sua própria intelectualidade, ou encará-los como meros puzzles para serem resolvidos com "teorias". O que Daniele Luchetti (“Mio fratello è figlio unico”, “Lacci”) exerce com esta adaptação de um livro de Domenico Starnone é o de manter o seu macguffin, o segredo confessado, ou melhor segredado ao ouvido, como um mistério sem revelação à vista, porque o que move a narrativa não é o que é a realmente a confidência, mas a existência dessa confidência, sempre apoiada pela banda-sonora atmosférica de Thom Yorke. Portanto, ver  “Confidenza” é penetrar num "e se" quanto aquilo que esperamos contrair nas metragens, ao invés de termos a garantia dos seus nós atados e de como tudo se conjuga num final pleno. Não vemos plot twists nem exigências de género num thriller carpinteiro com entrelinhas para serem dissecadas e interpretadas à maneira do freguês. 

Mesmo que a sua especialidade seja uma efêmera curiosidade e pode-se esgotar num visionamento apenas, Luchetti brinca com o espectador, fazendo dele "gato-sapato" e "tripas coração" para com o destino deste tão ambíguo personagem, e mesmo assim a desafiar a nossa empatia. Sim, senhor ...