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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Check-out desamoroso

Hugo Gomes, 18.06.25

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Através do Hotel Roma, em Lisboa, forma-se um palíndromo imperfeito: Amor. Lê-se cuidadosamente na caixa-título, para rapidamente se perceber tratar-se do nome do estabelecimento hoteleiro no qual seremos convidados a “pernoitar” por sensivelmente hora e meia — um dia, no tempo narrativo do filme do brasileiro Hermano Moreira. Depois do turismo acidental em Lisboa com Amo-te Imenso, o realizador repousa agora nos desastres, da recepção ao service room, deste espaço pseudo-ficcional.

Curemos, então, os males trazidos pelo turismo massificado na capital lisboeta, ainda que tal não importe. Hermano declara-se fascinado pela comédia romantizada, aqui serpenteando por planos-sequência, falsos raccords e truques já antevistos noutros exercícios. Leva-nos à beira de um desastre trágico-cómico: um hotel onde tudo parece fora do seu devido lugar e uma gerente (Jessica Athayde) à beira de um ataque de nervos. Portanto, é fazer reserva e esperar pelos gags. Infelizmente, “Hotel Amor” não se vinga nesse feito, carece de genica, criatividade e daquele timing, arma essencial do humor, aqui ausente, substituído por truques amanhados e clichés negativos de cada quadrante do ramo hoteleiro (nota-se que o filme foi escrito por um argumentista brasileiro, porque existe um subtil tom de exotismo e estereótipos nas personagens portuguesas).

A curiosidade técnica não compensa a inaptidão cómica. O filme vive da “malapata” disfarçada, mas falha em criar empatia com estas figuras desastradas, nem sequer com a protagonista workaholic, injectada com tragédia de última hora para tentar suprir essa ausência. Também o final epifânico, quase deus ex machina, parece recompensar a incompetência em prol de um ambiente quase disnesco. Em “Hotel Amor” falta-lhe o amor de ser compreendido; em vez disso, é-nos servida uma ideia de gag mal cozinhado, em jeito de fusão.