César Mourão em "A Canção de Lisboa": "Atenção, eu sou um ator e não um comediante"
O Cinematograficamente Falando … falou com o ator César Mourão sobre mais um capítulo da chamada “Trilogia dos Clássicos“, desta vez, e novamente como Vasco Santana, em “A Canção de Lisboa” (Pedro Varela, 2016). Nesta conversa descontraída, Mourão falou sobre o legado do ator que tem “incorporado” no grande ecrã em dois filmes e a sua experiência na comédia e nesta nova versão do clássico dos clássicos portugueses.
É a segunda vez que desempenha um papel anteriormente interpretado por Vasco Santana. Sente que de certa forma tem sido responsável por carregar o legado do ator?
É impossível ser Vasco Santana, porque simplesmente Vasco Santana é Vasco Santana e ponto final. Apenas faço o trabalho que me pedem da melhor forma possível, é um orgulho interpretar uma personagem já fora desempenhada por Vasco Santana, mas não pode haver comparação. Até porque são duas “coisas” completamente distintas. Se me perguntarem se adorava ter o reconhecimento que o Vasco Santana teve, claro que adorava, mas isso requer muito trabalho, empatia com o público e também sorte.
Então quer dizer que evitou ao máximo “imitar” Vasco Santana?
Sim, a ideia, aliás, era exatamente essa. O objetivo não era fazer uma comparação, não o de imitar Vasco Santana, portanto, foi completamente fugir a esse conceito.
Os filmes como o clássico “A Canção de Lisboa” são ainda hoje vistos como exemplares respeitados da comédia portuguesa. É difícil fazer comédia em Portugal?
Penso que a comédia em Portugal é bem aceite pelo público. O público gosta da comédia, não só em Portugal, mas como também no resto do Mundo. Atenção, eu sou um ator e não um comediante, trabalho, sim, com a comédia e felizmente tenho conseguido viver com ela. O que é fantástico, porque é sinal de que o público compra bilhete para ir ver-nos no teatro ou no cinema, ou seja, o público quer realmente ver-nos.
O facto de se declarar como um ator e não um comediante, significa que aceitaria fazer, por exemplo, um papel dramático, ou algo fora daquilo a que o público está habituado a vê-lo?
Claro, adorava. Como já havia referido sou um ator, não um comediante. A minha formação é de ator, por isso apreciaria interpretar qualquer papel em qualquer registo. Por exemplo, em “A Canção de Lisboa”, existem leves toques de algo mais romântico, mais sério, principalmente nas minhas cenas com a Alice [personagem de Luana Martau]. Mas em Portugal, por vezes, ficamos rotulados com uma determinada característica ou interpretação. Mas como ator, cá estou eu para aceitar os desafios.
Para si, qual é a fórmula de sucesso desta trilogia? Sabendo que o sucesso em "A Canção de Lisboa" ainda é uma incógnita?
Modéstia à parte, acho que este também vai ser um sucesso. Agora, quanto ao êxito, este é resultado de um verdadeiro trabalho por detrás, da dedicação, e tal pode ser verificado neste filme. “A Canção de Lisboa” é um filme sério, digno, que respeita sobretudo o público-alvo, o público que realmente pretendemos atingir. Não é um filme pretensioso, nada disso. É apenas um filme bem escrito, com dedicação e empenho, esse é sim, o segredo do sucesso. O resto é o público gostar ou não.
Se a trilogia se prolongasse para mais um ou outro filme e se esse filme contasse uma personagem anteriormente interpretada por Vasco Santana, aceitaria participar?
Adoraria, desde que o roteiro ou guião fosse do meu agrado, e tudo o que estivesse à volta também for do meu agrado. Obviamente, que fosse também bem tratado. Portanto, desde que eu gosto, porque não …
Quanto a novos projetos?
Não tenho. Mas atenção, é por opção. Tenho a “Commedia a La Carte”, o qual será para o resto da vida, ainda tenho esperanças de começar um espetáculo no Teatro da Trindade. Os meus projetos são feitos no imediato, é aqui que eu estou, é aqui que eu vou, fazendo sempre “coisas” novas. Convites? É esperar por eles e ver o que daí sai.