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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Bye bye alegoria ...

Hugo Gomes, 18.09.24

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Alexandre Aja (“Haute Tension”, “Piranha 3D”) poderia transformar este “Never Let Go” numa alegoria, uma espécie de Caverna de Platão, um metáfora salganhada com jumpscares, sobre o fervor religioso, a dominação ao paganismo e a opressão absolutista do cristianismo, uma vez que utiliza os seus simbolismos e contornos para erguer uma Halle Berry em estado de paranoia permanente. A certa altura, ainda esperávamos que um filme de estúdio contrariasse as tendências e se atrevesse a exibir alguma intelectualidade, virasse engodo — uma isca astuta para o público generalista e maioritário.

Essa pretensão mantém-se, alimentada pelo lugar-comum da “cabana na floresta”, geografia reconhecível do género, aqui inevitável “incendiário” ao isolamento de uma mãe e duas crianças, a primeira atormentada por uma ameaça que só ela vê, e os restantes alimentados por essa mitologia ali criada frente aos seus olhos. O resto, desde a fauna à densa flora do “lado de fora”, semeiam dúvidas enquanto os cânticos maniqueistas da mãe ecoam: o Mal, essa entidade que se impregna e corroi como peste tudo o que toca, e cuja protecção encontra-se numa corda, essa ligação umbilical para com a decadente habitação, a sua robustez resulta na “crença”, e livrai-nos de qualquer “impensável” ato de o desatar. Sendo um filme que se apropria das propriedades do cristianismo, sempre recitando vultos bíblicos, é de esperar que os dois irmãos irão debater as suas “fés”, emergindo como forças centrais no conflito dramático deste terror evangelizador (contávamos que esse lado fosse um eventual failsafe). 

O problema é que “Never Let Go” acaba por ceder, e fá-lo de forma atormentada, oferecendo aquilo que o cinema popular tantas vezes quer dar no seu conforto de mercado: aquilo que o espectador deseja, ou pensa desejar. E o que ele quer, na sua maioria, é assistir sem pensar, sem subtextos, tudo literal, fácil de compreender pela lógica da fábula e da “batata”, ou seja, aquilo que a narrativa entrega no imediato, sem espaço para interpretações mais profundas ou figurativas. É olhar para o Capuchinho Vermelho e assumir que se veste de vermelho, mas nunca questionar o porquê de vestir vermelho, e o disso atrair “lobos maus” em errados trilhos da floresta.

Portanto, perde-se uma suposta (se ainda tivéssemos esperança … ou fé) e complexa metáfora, e recebe-se mais um exercício de género, de cerco e de teor apocalíptico, com todos os rodriguinhos que isso acanha, atirado para o “monte”. É tão difícil pedir um pouco de massa cinzenta aos filmes orientados para o mainstream?