"Bumblebee": a versão light do devaneio de Michael Bay
Entramos aqui de porta escancarada num pleno paradoxo. Se por um lado, este “Bumblebee” será para muitos dos adeptos da saga (e não adeptos) o “mais filme” dos sete (saliento com isto a comodidade da narrativa de três arcos e dos reconhecidos elementos que formam, por exemplo, os êxitos crowd pleaser), é também o menos personalizado. É que, para o bem ou para o mal, os tiques visuais e a megalomania de Michael Bay atribuíam a este franchise uma “casa à sua marca autoral”. Mesmo com o sufoco narrativo, perversamente esmagado num sexto filme, havia uma liberdade que se sentia nesta jornada cinematográfica dos famosos produtos da Hasbro.
É certo que de Bay existe uma presença tóxica que por si só afastou “The Last Knight” do habitual target de audiências (605 milhões não é nada em comparação com a entrada na casa dos mil milhões de dólares dos capítulos anteriores). Com “Bumblebee”, focando sobretudo na origem do carocha que sempre se pontuou como um dos favoritos dos fãs, Travis Knight (vindo das animações stop-motion da Laika) prescreve um filme anacrónico da cultura-pop dos anos 80 (moda nostálgicas … check), sob a vencedora pasta de “family-friendly” como os norte-americanos gostam de apelidar. Ou seja, povoando um território mais familiar, mais contido (até mesmo as sequências de ação são mais elegantes e perceptíveis), este spin-off/prequela de “Transformers” é uma fórmula vencedora no que requer a citar os atributos desejados do público mainstream.
Convém salientar que a sobriedade de Knight no storytelling concentra aqui a sua melhor qualidade/ambição, extraindo da loucura à lá Bay estas personagens e insemina-las em fertilidades “spielbergueanas” (Steven Spielberg mantêm o seu cargo como produtor). Porém, como entretenimento, "Bumblebee" abdica da espetacularidade em nome da arte de contar uma história para as massas. Infelizmente, é com isso que se converte em “mais um filme”.
Profundamente despersonalizado e anónimo, Travis Knight (mesmo tendo entregando a preciosidade de “Kubo and the Two Strings”) é um jogador fiel às suas regras e Michael Bay um desalmado que mina os seus filmes de devaneios catastroficamente artísticos (goste-se ou não, há que reconhecer que Bay é um autor destes novos tempos) que pouco quer saber desses mesmos regulamentos da indústria. No final, só um ficará para a posteridade. As nossas apostas estão nos “trambolhos” narrativos de Michael Bay.