"Black Panther" morreu, Longa Vida à dinastia Marvel!
Sem Chadwick Boseman, óbvio, por razões trágicas, a esperada sequela de “Black Panther” reveste-se de um branco fúnebre (o luto origina um renascimento), tentando com isto receber-nos com uma cerimónia de pesar, um evento em torno da memória de um, infelizmente, ator “tardio” [com carreira iniciada em 2003] sem tempo para demonstrar estar mais para além do universo Marvel (e em “pequenos” passos conquistaria esse lugar). Foi redesenhado da mesma forma que o sétimo “Fast & Furious” fora após a sua própria tragédia [Paul Walker], e como tal, a morte é aqui servida de um espectáculo algo “pop”, digamos até facilmente universalizado. Contrariamente, o tributo é desvanecido no preciso momento em que a morte de um “ser fictício" instala-se com mais impacto emocional e até peso na narrativa que a pontuada ausência do genuíno Pantera Negra.
Neste segundo filme é notável a sua faceta atabalhoada, caótica, derivada às inversões de marcha da repentina partida que o destino os obrigou a tomar, alterando todo o rumo que esta saga dentro de uma saga planeava seguir. Embora o seu lado trapalhão seja suscitado por um excesso de confiança quanto ao seu próprio universo e inconscientemente desligando-se dele. Tal leva, por exemplo, a que o "afrofuturismo", elemento vencedor do filme de 2018, seja rascunhado e limitado a meras piscadelas de continuidade, para que “Wakanda Forever” se esforce no enfoque a geopolíticas com aproximações ao nosso “mundo real” (outro “Civil War”?). Um mau fígado para este tipo de cinema que deseja abordar o seu exterior através do seu interior e fantasiado núcleo, não contribuindo com nenhuma reflexão para além do simplismo infantilóide enquanto “soluções” a forças globais - um exemplar de proto-fascismo - contudo, não discutiremos tais conceitos aqui, porque é cinema de super-heróis, e como cinema de super-heróis tais vertentes encontram-se à baila da rotina. Aliás, a rotina tornou-se lugar-comum aqui.
O anterior “herói independente”, Ryan Coogler (“Fruitvale Station”), regressa à direção da franquia, aqui desacostumados aos seus habituais e vistosos travellings, e rendido à decoupagem industrializada. A sua “mão” encontra-se mais homogênea, vencida pela força da sua megalómana produção. Apesar disso, persiste num episódio espirituoso (comparativamente com 90% do universo partilhado que se insere, este “leopardo heroico" destaca-se pelo seu modelizando exotismo, ora estético, ora sonoro), mas sob as constantes cãibras quanto à sua “longa” narrativa.
A sublinhar ainda o seguinte: a normalização da ação refém ao CGI, batalhas “campais” dependentes dos fins tecnológicos e sem grau algum de consequência. Efeito videojogo ou não? Ou simplesmente a empatia substituída pela artificialidade que transforma personagens em meros peões de efeito? Conforme seja a resposta, o que importa é que há guerra, sem nos conectarmos devidamente aos seus desígnios. Por isso, passamos (mais) um episódio à frente … muda-se o “rei”, mantém-se o reino.