Bem bom que seria ...
“A televisão pode ser a cores, mas quem opina, ainda opina a preto-e-branco"
A realizadora Patrícia Sequeira tem-se disponibilizado como uma porta-voz de cinema feminino nas nossas instâncias nacionais, tendo como particularidade uma direção propícia para o chamado e por vezes cobiçado grande público. Começou nestas andanças com o cerco estabilizado de "Jogo de Damas" ("fechando" quatro mulheres numa remota habitação, todas elas motivadas por conflitos pendentes), passando para "Snu", biografia de uma personalidade tangente da nossa política e por fim, encontrando na cinebiografia de uma das primeiras girl bands europeias - As Doces - como uma desconstrução à indústria musical, especialmente na criação de estrelas femininas, com "farpas" lançadas ao conservadorismo imperativo em Portugal nos anos 80.
O olhar faz-se pela própria limitação, gerada pela insuficiente reconstituição histórica, condicionando o filme a voos curtos e a uma certa miopia formal. Contudo, é nestes espaços, ou melhor, a falta deles, que Patrícia Sequeira cria uma antítese à objetificação da mulher na ala do entretenimento, recorrendo às mesmas direções desse olhar para tecer tais críticas ferozes. Mas mesmo assim, as palavras solicitam a sua dimensão e é então que deparamos com um terceiro ato completamente desprovido de subtileza e guiado por ativismos de campanha, com isso transportando o filme para objetivos primários, deixando nos bastidores a sugestão bem-sucedida até então fomentada.
Que pena, "Bem Bom", durante as suas primeiras performances, demonstra ritmo para dar e vender, e ousadia temática para sair da mera esquematização cinematográfica de que as ditas biopics musicais estabeleceram, só que a conformidade assumiu o seu controlo, aliás a sua rebeldia reformou para ceder ao exemplo “correcto”. Por sua vez, o quarteto é um primor (Bárbara Branco, Lia Carvalho, Carolina Carvalho e Ana Maria Ferreira), ostenta dinamismo e química, e é com elas que o tempo é partilhado com maior agrado.