As aventuras de Viola na África de Hollywood
“Viola Davis de vestes tribais subsarianas, munida de lança e punhal e com insaciável sede ‘matar’ colonos”, dito desta maneira, o filme está automaticamente vendido à minha pessoa, pensava eu após as primeiras imagens divulgadas neste “The Woman King”, prometido épico sobre guerreiras africanas da mesma realizadora de “Love & Basketball” [Gina Prince-Bythewood] … e “Old Guard” para os aficionados em “Netflix & chill”.
Poderia ser o meu consolo após o fracasso virado em leitura televisiva de “Njinga, a Rainha de Angola" do português Sérgio Graciano, poderia, mas não se cumpriu, o desejo ainda permanece aqui. O projeto em si poderia optar por dois caminhos possíveis; o abraçar sem compromissos ao lado “camp” ou a subversão do espéctaculo de género, apesar disso preferiu uma terceira via, imprimindo-se na condensação de todos os “rodriguinhos” hollywoodescos, com subenredos e artimanhas telenovelescas a reproduzir as enésimas esquivas do outro lado do Oceano. A África que esta equipa nos trouxe é de uma pura higienização yankee, digo até mesmo ‘colonizado’, abordando monarquias do continente à luz do medievalismo em moda. É uma disfarçada e anorética “Guerra dos Tronos”, onde nem mesmo Viola Davis, que seria a figura Altas em todo este cenário, consegue mostrar-se interessada no “buraco em que se enfiou”. Pior que um filme desastroso, é um incompetente e procrastinador naquilo que seria as suas expectativas e objetivos.
A juntar a uma visão demasiado modernizada e acrítica, eis que nos surge um sofrível português falado numas supostas reproduções colonizadoras, fortalecendo ainda mais a ideia de que Hollywood está-se a ‘borrifar’ para diversidades culturais, linguísticas e históricas (a sua África é a sua Europa, e assim sucessivamente, uma massa homogénea que reúne os mesmos estereótipos, lugares-comuns e resoluções narrativas lecionadas até à exaustão). Por outras palavras, é Hollywood feita pelos mesmos e para os mesmos.