Arte de matar críticos de cinema ... e egos
Há semelhanças de carácter entre Ridley Scott e Leonel Vieira: ambos desistiram da sua perseguição autoral e entregaram-se ao repetitivo baile da cor do dinheiro. Embora a jornada de Scott tenha sido, incomparavelmente, mais interessante do que a de Vieira (e o bailado de um mais digno do que a coreografia do outro), são realizadores que adquiriram um ego desmesurado, por vezes afiambrado na colheita de box-office.
Antes de o português se render aos remakes de clássicos salazarentos ou a pontes telenovelescas com o Brasil, ainda se aventurou na internacionalização do cinema português. Fê-lo sem perceber que a sua conquista mundial residia na preservação da identidade e na sua língua. Aqui, fez-se o “bonito” de encantar o anglo-saxónico, recitando o que sabe sobre universos tarantinescos, rodriguescos e outros crimes por tuta-e-meia, convidando actores — aqui (Ivo Canelas, Soraia Chaves, Nicolau Breyner) e para lá de Badajoz (Enrique Arce) — e integra-os um prato de condimentos importados, cozinhado para a pequena tela.
É um filme esquecível. Não vale a pena bater no ceguinho, mas também não convém fazer-lhe festas ou olhar com a condescendência do “só quer contar uma história”, lema e tradição de novatos nestes arcabouços da crítica de cinema. “Arte de Roubar” não tem identidade, nem sequer personalidade. Macaqueia o que vê e o que viu, e ainda “mata” críticos (a célebre referência da adega) como aquele alfaiate que matou as sete moscas num só golpe, aludindo ao erro do rei que pensou tratar-se de gigantes que ameaçavam as suas terras.
Pois bem: Vieira quis vingar-se das más críticas de determinados críticos e de um específico produtor, mas esqueceu-se de contar a história como deve ser. Enganou-nos, e bem, ao tentar soar maior do que é. Por um lado, quem me dera ser um crítico enterrado e assassinado nestas ficções, é sinal que os maiores egos conseguem ferir com poucas mas devidas palavras.