"Are you not entertained?"
Não há regresso possível ao subgénero peplum, muitas vezes à convicção do épico hollywoodesco a fazer-se ao “sword & sandal”, “Gladiator 2” assume, desde o seu primeiro ponto, aquilo que é - uma fantochada histórica. Aceitar ou não aceitar, fica-se pela questão! Mas conforme seja o seguidismo é nesse aspecto, o de nunca aventurar-se por reconstituições de História à luz natural, que esta muita antecipada sequela esbofeteia o anterior “Napoleon”.
Ridley Scott está no seu circo, a corrida da Roma antiga pelos seus êxitos, e é dessa forma que o tarefeiro carrancudo dança na indústria que cada vez mais fracassada a esses espectáculos de grande tela. Convém afirmar que o épico histórico está morto lá para os lados norte-americanos, Wolfgang Peterson fez-se ao último suspiro [“Troy”, 2004], Scott por sua vez deixou-nos claro no seu anterior “Last Duel” (2021), de que não existe espaço para estes filmes na modernidade, apenas as suas desconstruções. Determinado em contrariar até mesmo ele próprio, o realizador decreta este “Gladiator 2” na sua escondida proeza, o de fazer entretenimento longe das fórmulas correntes, só que essas tais o aproximam, apoderaram-se e estabelecem uma via que só os fracos se torcem, por afinal a fórmula acaba por vencer … ou Ridley Scott só conhece a fórmula? Portanto, a existência desta continuação deve-se à popularidade e ao capital, a primeira a desencadear a última, digamos assim.
“Gladiator”, o filme de 2000, com Russell Crowe esfregando as mãos na areia da arena do Coliseu (“o maior templo romano”), foi um trunfo de cinema popular tendo essa luz encadeado a award season a altura, conquistando o Óscar de Melhor Filme, a partir daí Ridley Scott foi sinónimo de épicos hollywoodianos, fracassando-se espectacularmente nos projetos seguintes (“Kingdom of Heaven”, “Exodus”). Hoje, com a fita estranhamente numa memória colectiva (Hans Zimmer de braço dado com Lisa Gerrard ecoa nessa “eternidade”) e com um obsessão viral, do domínio das redes sociais (“Why men just can't stop thinking about it”, basta pesquisar), tendo como reflexos políticos, do Império Romano numa cultura viril de “machos alfas” fabricados virtualmente, “Gladiador 2” encontra razões, financeiramente viáveis, para existir entre nós. Só que é “azeite” derramado, de cidades em CGI, de atores abonecados para servir uma história que se desvenda a partir de dez minutos, onde só Denzel Washington (novamente ao lado do realizador, 17 anos depois de “American Gangster”) ergue-se na romana coluna da veneração. Por outro lado é a velha máxima do desejo de Hollywood em concretizar “Birth of a Nation” de D.W. Griffith, uma vez mais, da réplica, da réplica e da réplica.
Ridley Scott exibe a sua fisicalidade, a sua teimosia, expondo-se ao julgamento do Imperador (ou Imperadores, costuras de auras caliguleanas e neroeanas, não saímos daqui), polegar para cima como sinal de misericórdia ou para baixo como sentença divina. Escutem, funcionará como sempre funcionará, restaurará a masculinidade obsessiva em cada um de nós, exaltará a veneração aos “homens fortes” à imagem do povo que o cultua, daí essa branquitude seja um espelho dos tempos politicamente atormentados que vivemos, porque encaramos a Roma antiga nessa mixórdia de lendas e rumores.