Apollo antes de Rocky e depois de Rocky
Em “Rocky” (John G. Avildsen, 1976), ao contrário do que se vende e da imagem que perdurou, existem duas faces da mesma moeda; um “underdog” ítalo-americano, ou melhor “garanhão italiano”, que cresceu nas ruas de Filadélfia com o “coração de campeão” e de uma vontade algo-infantil (leia-se sonhador, apesar da teimosia que sublinha imaturidade) - sim, o Grande Rocky Balboa (Sylvester Stallone) - e do outro lado, um campeão de ambições fortes, por direito, Apollo Creed (Carl Weathers), o ex-”underdog” que certo dia, perante a fraca concorrência, decide apontar holofote a um “Zé Ninguém”, entendendo-o, é claro, dando a mão para uma eventual catapulta social. O resto, é confronto de ringue, homem contra homem, soco a soco, até ao último K.O. Como sabem, Rocky perdeu esse combate, não estava destinado a fantasias maiores que ele próprio, Apollo era melhor pugilista, e mais, experiente, e igualmente detentor desse “olhar de tigre”, dessa garra em conquistar um lugar previamente proibido à sua existência.
Rocky Balboa é para mim uma espécie de figura paternal, um modelo, um guia que aspira nos momentos árduos que só a Vida proporciona numa cantiga de injustiça, e desse jeito não o consigo separar de Sylvester Stallone, mas em Apollo Creed encontro a outra fase, a consagração, o espírito de preservação, o lutador em repouso após tremendos assaltos, o por fim, descanso merecedor, o K.O. à vida maldita e trafulha. Rocky caminha para Apollo, até porque Apollo já foi Rocky, um não existe sem o outro, e o outro não existiria sem ele. Assumo que Carl Weathers fez muito mais para além de “Rocky”, é verdade, mas se existe personagem o qual detive tamanha estima, essa é definitivamente Apollo Creed, o bom americano, aliás o Tio Sam que deu certo!
Na vida, Rocky aspira ser Apollo! Na vida, Apollo inspira Rocky!
Carl Weathers (1942 - 2024)