Amor em clima de razão
amor |ô| (a·mor)
nome masculino
- Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa.
- Sentimento intenso de atracção entre duas pessoas.
- Ligação afectiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual.
- Ser que é amado.
- Disposição dos afectos para querer ou fazer o bem a algo ou alguém.
- Entusiasmo ou grande interesse por algo.
- Aquilo que é objecto desse entusiasmo ou interesse.
- Qualidade do que é suave ou delicado.
- Pessoa considerada simpática, agradável ou a quem se quer agradar.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2024
Definição de um sentimento, um conceito, uma religião imposta numa universalidade para com a nossa existência. Talvez tenha sido no salto evolutivo que culminou na emergência da consciência humana, que o amor foi concebido como uma resposta para o até então incompreensível: as relações interpessoais, os afetos, a sexualidade e até a devoção religiosa. Amor é isso, o objeto de estudo ao longo dos milénios na tentativa de categorizá-lo como uma entidade absoluta.
Nesta obra da atriz/realizadora Monia Chokri, “Simple comme Sylvain” a protagonista, Sophia (Magalie Lépine-Blondeau, “Laurence Anyways”), uma professora de filosofia, leciona intermitentemente sobre o amor sob o prisma dos diferentes filósofos e seus respectivos pensamentos (desde o desespero à demanda). Nestes interlúdios informativos, são demarcadas as estações da sua vivência: um amor, dizem uns; uma atração, referem alguns; simplesmente sexo, apontam outros.
A verdade é que o amor é um inseto metamórfico nesta falsa comédia romântica. Falsa porque existe nela espaços de reflexão quanto à estrutura subjacente ao romance, conforme formalizado na contemporânea “cultura popular”, seja nos vínculos literários, seja subsequente transposição para à tela, o cinema, onde se difundiu por milhões e milhões, incorporando também a sua vertente mercantil: o amor do Dia de São Valentim, dos postais e bombons em forma de coração. É uma produção desconstrutora, mas sem respostas definitivas, até porque Chokri - tal como a sua protagonista, esta mulher entediada que termina o seu duradouro relacionamento para iniciar outro com uma pessoa fora do seu círculo intelectual e sem similaridades de personalidade (“os opostos atraem-se”, cantiga escutada vezes sem conta) - desconhece os aprofundamentos desse amor-tese.
Fala-se em resultado químico, atrativo estético ou correspondência ao turbilhão emocional a que nos submetemos nesta sociedade que imperativamente demanda amor, seja na forma monogâmica ou poligâmica, abstracta, platônica, espiritual ou teológica. O debate é induzido ao longo dos 110 minutos deste, até à data, mais certeiro projeto da emancipação de Monia Chokri (“Babysitter”, “La femme de mon frère”) na cadeira de realização.