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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Adieu Jacques Rozier! Adieu Philippine! Adieu Nouvelle Vague!

Hugo Gomes, 04.06.23

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Jacques Rozier

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Adieu Philippine (Jacques Rozier, 1962)

Não pensemos somente na morte de um cineasta, ainda que esquecido na narrativa canônica, como também na popa e proa de uma vaga, uma que redefiniu o Cinema para uma presença moderna, exaustivamente desconstrutiva, revoltada e fora da possessão dos estúdios, que de momento vira "dilacerada" da nossa contemporaneidade. Foi uma vaga, nouvelle, como fora carimbada nesse mundo fora, trazido por cinéfilos com ânsias de fazerem Cinema, o seu, o atenciosamente seu, sem perceberem o quão cineastas eram antes de realmente sê-los. Rozier, era o último, o sobrevivente, o testemunho de um tempo virado em História de manuais, cujos filmes, hoje relembrados, resgatados e visualizados (esperemos que sim, e que continuem a ser) convertem em achados arqueológicos, as provas estradas e sem negações da existência dessa “onda” cinematográfica. 

Portanto, Jacques Rozier nos deixou, o nosso “Lonesome George” - sim, aquela tartaruga gigante de uma espécie única das ilhas Galápagos que durante décadas se tornou no exemplar único, “o solitário Jorge” -, mas ao contrário do réptil só e “abandonado”, o realizador preferiu a solidão como seu ilhéu, e as décadas aí sugeridas foram somente representações imateriais, visto que Godard encontrava-se a poucos meses entre nós. Para muitos, e muitos da sua “classe”, foi o redefinidor da vaga. “Adieu Philippine”, relato de amores joviais em época estival, materializou as regras a seguir e a transgredir. Caminho aquele percorrido pelas duas garotas numa rua movimentada com “capitalismo a gritar pelas costuras", onde a ação é a protagonista e não as suas atrizes [Yveline Céry e Stefania Sabatini], completamente integradas (camufladas, digo eu) ao seu meio ambiente. 

Novamente repensando o primeiro ponto: Rozier morreu, levando com ele toda uma espécie. Extinta, declaremos assim. Para sempre estampado nos livros de História para de vez em quando invocarmos a sua existência.