A talentosa saudade de Ms. Ripley
Já com “Covenant” (2017), essa tentativa de reavivar a saga “Alien” na sua forma pura fazia antever os problemas nunca abordados quanto à sua imposta ressurreição. E com “Romulus”, essa primeira instância sob a chancela da Disney, persistem as mesmas anomalias: o motor do franchise não está nos xenomorfos; é a história de uma mulher: Ellen Ripley.
E, como se costuma dizer (nunca, na verdade, mas tentarei a todo o custo que se torne um hino), Ripley só há uma! Sigourney Weaver, que atravessou o filme inaugural de 1979, um whodunit espacial, para o belicismo sci-fi de 1986 [de James Cameron], sequencialmente um filme de cerco nos algures cósmicos de 1992 [de David Fincher], e para uma fantasia body-horror em 1997 [de Jean-Pierre Jeunet] - cada um com a sua assinatura, e cada assinatura com a sua marca vincada - , tendo terminado aí o seu percurso, em tempos houve promessas de um regresso num possível “Alien 5” sob a batuta de Neil Blomkamp (“District 9”), mas, enfim, os “donos-disto-tudo” tinham outros planos, e Ridley Scott apressou-se em conectar o universo ao seu “Prometheus” (dos poucos filmes da sua fase pós-“Thelma & Louise” que merece uma espreitadela). O resultado foi o mencionado “Covenant”, que partilha com este, agora sob a alçada de Fede Alvarez (“Don’t Breathe”, “Evil Dead”) e com o apadrinhamento do próprio Scott, o facto de serem objetos competentes, mas cuja competência não paga imposto, principalmente em indústrias demasiado oleadas como a que presenciamos.
“Romulus” encontra-se despido de Ellen Ripley, o que não é novidade alguma, e é disso que a saga saliva de saudade, com a persistência em apressar novas personagens, esboçar passados trágicos a fim de traçar empatias com o espectador (o efeito é contrário; “Alien” de 1979 despachava esses assuntos, e até ao final tememos pelo destino da protagonista acidental e do gato laranjinha a bordo), só que em matéria de sobrevivencialismo, as novas personagens são um “bando de incompetentes”, com claras alusões ao transhumanismo, essa substituição da carne, humanamente falando, pela mecânica (nota-se - “facepalm” - na pior decisão da protagonista). Para alguns, será visto como uma tentativa de refrescar uma saga para futuras explorações, só que despida de ambições de expansão, limitando-se à reciclagem na envolvência do “mais-do-mesmo”, aquela estrutura algorítmica de reunir os elementos familiares aos espectadores (mal) habituados (não se vá desafiar expectativas), para no final sair-se com a sensação de conforto.
“Romulus” (confirma-se à relação simbólica com o mito génese romano) ainda dá paleio para puxar os fios daquele universo constantemente invocado como canónico - o de cruzar “Alien” com “Blade Runner” - e desta feita olha de esguelha para os episódios de “Prometheus” (2012). Além disso, é um filme-Disney que guarda algumas das suas piores tendências, entre elas a de “ressuscitar” atores falecidos para o propósito de os “homenagear” por via de um CGI pobre (se é mau agora, imaginem daqui a 5 anos, sabendo da caducidade destes efeitos). Vale pelo trabalho de som, que por momentos atinge a sua genialidade, mas ficarmos por um capítulo pela sua sonoridade é uma desculpa muito esfarrapada, não é verdade?