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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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A rainha Angelina Jolie regressa para uma sequela que ninguém pediu

Hugo Gomes, 16.10.19

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Vindo diretamente da gaveta das "sequelas que nós não pedimos" chega-nos "Maleficent: Mistress of Evil", a continuação daquela reinvenção de 2014 com enredo centralizado na vilã do famoso conto de Charles Perrault "A Bela Adormecida".

Dirigido por Robert Stromberg, "Maleficent" tentava recriar os acontecimentos e a estética da popular animação da Disney de 1959, para depois empurrar para uma espécie de "confessionário" condescendente da antagónica feiticeira. A escolha de Angelina Jolie foi provavelmente a razão da existência desta versão, mas nada nos preparava para o revisitar daquele “mundo mágico” profundamente tecnológico e povoado por personagens ingénuas e de papelão.

Contudo, vamos por partes. Nesta sequela, sob o pretexto de liberdade criativa (só pelo nome que fica a graça), vemos Maléfica a tentar reconciliar a sua natureza com o instinto maternal gerado pela sua relação com Aurora (Elle Fanning). Com a notícia de noivado da jovem que a feiticeira é impulsionada para um dilema existencial e moral: conviver harmoniosamente com os humanos que tanto odeia ou declarar guerra sobre eles. No meio de isto tudo, surge Michelle Pfeiffer como a rainha Ingrith, pronta para o “braço de ferro” com a dita Mestre do Mal.

Colocando desta maneira, o segundo "Maléfica" parece ser uma atualização do primeiro filme, provavelmente mais rico visualmente e sonoramente, bem como emancipado da estrutura emprestada de "A Bela Adormecida". Mas o que acontece é um crónico vazio artístico: perante o frenesim digital, as criaturas computadorizadas e as paisagens sintéticas de encher olho, nada aqui se resolve.

Na realidade, "Maleficent: Mistress of Evil", com assinatura Joachim Rønning ("Kon-Tiki"), é uma produção condenada à extensão de uma suposta imagem de marca. Por vezes infantilizada no que requer a personagens e as suas ditas emoções (um romance que fraqueja em atribuir ênfase ao suposto tom trágico), transformando conflitos de metaforizada diplomacia internacional em meras e inconsequentes brincadeiras de “faz-de-conta”.

Mas o pior é mesmo um argumento traduzido numa salganhada de lugares-comuns, tópicos apressados e diálogos rudimentares e sem espessura. É um brinde descartável para motivar ainda mais a industrialização da fórmula. E apenas com Angelina Jolie, sedutora e com um certo prazer na sua travessura, é que este “parque de diversões” mira para alguma (e não suficiente) dignidade.