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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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“A Mãe é que Sabe” o que cinema português precisa

Hugo Gomes, 06.12.16

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O que parecia ser uma comédia de costumes da mesma raiz que os remakes de “Canção de Lisboa” ou “Pátio das Cantigas” (o que não é bom sinal), revelou-se numa aspiração a um enésimo episódio de um Twilight Zone. Se não sabiam, ficam agora avisados, quanto à estranheza nesta oscilante variação entre dois géneros (a comédia de influências salazaristas, os bons costumes morais e conservadores como manda a tradição, e da ficção científica) … bem … a “Mãe é que Sabe”.

É fácil identificar os propósitos de Nuno Rocha (da curta-metragem “3X3”) e todos os envolvidos neste projecto – centrar um tipo de cinema acostumado ao formato televisivo para indiciar aquilo que muito da nossa cinematografia havia perdido, a arte do storytelling, e não a regência de um estilo, de um statement político ou de uma transgressão artística. É uma questão de enredo, do pitoresco dos gags disfarçados em “nosso pão de cada dia” e a nostalgia mercantil que muitos dos nossos espectadores, principalmente aqueles que cresceram sob o regime do Estado Novo, irão se identificar.

Sim, é tudo um episódio de “faz-de-conta”, uma mixórdia de temáticas que a meio gás envolve-se com o que de mais mediático existe na ficção científica norte-americana. Ouso em afirmar que este “A Mão é que Sabe” é o mais próximo que temos do Arrival, de Denis Villeneuve, por exemplo. Para as audiências endereçadas às telenovelas do costume, àquelas narrativas lineares e aos failsafes, o filme de Nuno Rocha é um desafio mental, uma salada temperada ao gosto do freguês. Se isso será aceite por este ou não, advém da disposição do nosso “cidadão”. Para o cinéfilo mais profundo, a verdade é mais certa que a morte, e neste caso não poderemos antever telepaticamente, “A Mãe é que Sabe” cansa.

Cansa pelo seu meio-termo, pela veia científica que empesta a narração e sobretudo nos mói pelo facto que os retalhos de uma vida salazarenta protagonizada pela talentosa Joana Pais de Brito, são mais interessantes que todo o frenesim de “o que raio está-se a passar” pelo qual o filme se assume. Competente, sim senhor, mas um filme o qual nenhuma força cósmica o conseguirá resgatar num futuro próximo.