A história do Homem através do riso ...
Joker (Todd Phillips, 2019)
(...) e enlouqueci-me a rir, e depois a pensar, toda a psique humana, e por consequência toda a história do Homem, pode ser contada pela história do riso, a começar pela primeira gargalhada, acto coincidente com o nosso distanciamento irrecuperável da estupidez. Aliás, mais do que por raças, os humanos podiam ser classificados por graça, grupos de formas de rir, porque somos muito mais como rimos, pelo momento em que rimos, porque nos rimos, do que por destrinçar de cabelos e da cor da tez, que a cosmética matreiramente adúltera: somos os que riem de fel, os que riem quando não sabem o que fazer, os que riem em desgraça, quando estão nervosos, descontrolados ou com medo, e ainda os que riem na linhagem da Mariana, a lendária amiga da minha mãe que gargalhava com retumbância de soprano quando tinha orgasmos, e ninguém se importava na vizinhança, pois todo o mundo era por ela feliz, os que tinham e os que não.”
Mário Lúcio Sousa, “O Livro Que Me Escreveu” (Editora D. Quixote)