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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A dança dos "interesseiros"

Hugo Gomes, 18.05.16

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Três desconhecidos cercam uma isolada casa no Pico (Açores), aguardando pela vinda do seu habitante. O objetivo da espera deste trio – que se conheceram através de casualidades – diverge; um espera somente por dinheiro, outro por vingança e o último por compaixão. Não estava predestinado este dito climax, até porque não foi o destino que juntou estas três caricatas figuras, mas sim um complexo conjunto de acasos que apenas evidenciam que a mais recente obra de Luís Filipe Rocha, “Cinzento e Negro”, foi “montado” através de ideias dispares.

A segunda colaboração do realizador de “A Outra Margem” com o ator Filipe Duarte é um misto de western com neo-noir que divaga pela mais antiga das Histórias do Cinema: o golpe e a evasão. As claras alusões às tragédias gregas, nomeadamente ao clássico de Homero, “A Odisseia”, encontram-se perceptíveis na utilização deste cenário remoto, quase chamando pelos mais longínquos marinheiros e aventureiros. Porém, este “Cinzento e Negro” ao contrário da ambiguidade que o título parece indiciar é um exemplo afável de ingenuidade no cinema português.

A moralidade, felizmente, é dissipada em qualquer ato, mas o modo como caminha para esse suposto lado negro é de uma construção narrativa débil, onde os amontoados segredos das suas personagens, as suas origens e destinos, um dos ingredientes apostados pelo realizador, estão longe de captar a curiosidade do espectador. Este é um dos exemplos que não se adequa à expressão “a curiosidade matou o gato”.

Todavia, a fotografia de André Szankowski é uma agradável surpresa, trazendo consigo, principalmente no último tomo, um Pico indomável e intocável pela “mão humana”, mesmo que a casa esteja presente no dito “quadro”. Os desempenhos são outras valias, não ousando transgredir as personagens. O indicado foi somente preencher com rigor estes peões pitorescos, que tal como no filme de Sérgio Leone - “C'era una volta il West” - posicionam-se para “dançar” com os seus íntimos conflitos.