A Blast: um palco de emoções e conflitos sociais chamado Grécia
Num momento em que a Grécia encontra-se na ribalta dos órgãos de comunicação com um eventual rumo na sua direção política, o filme A Blast, a segunda longa-metragem de Syllas Tzoumerkas, parece fazer todo o sentido no panorama atual ao ilustrar uma desesperada emancipação. Deparamos com uma obra cuja temática é a austeridade, e obviamente a situação vivente da Grécia de hoje, mas enganem-se quem julga que tudo se contenta em “pintar” um retrato pessimista e decadente.
A Blast é sim, uma motivação desarmante e de vórtice emocional acentuada, tudo isto integrado num crescendo quase musical, que salienta a isenção do sentimento de esperança e muito mais a vontade de se “despir” dos anexos das nossas vidas passadas. De certa forma alienado, cru e duro, o filme de Tzoumerkas é uma verdadeira montanha russa emocional que concentra numa coragem em nunca ceder ao moralismo nem a sermões indevidos. Frases como “tu és um fardo!”, dirigidas a um pai pela própria filha, revelam a extrema força de culpar um passado irresponsável, ao invés de assumir as culpas e arrecadar os erros cometidos por esse legado. Contudo, são frases como essas que evidenciam essa irreverência, urgente no seu ato e apenas conseguido para quem vive dentro desse mesmo “aquário” social.
Nesse biótopo construído e desconstruído à medida que a narrativa evolui para um tudo menos “moral relief”, deparamos com uma atriz (Angeliki Papoulia, que também será vista em The Lobster, de Yorgo Lanthimos) capaz de oferecer com tamanha garra, a alma para esta vertiginosa viagem, onde os julgamentos por parte do espectador são sobretudo ignorados. Aliás este é um dos poucos filmes em que a sua protagonista pouco ou nada importa na exposição sentimental, e é nessa dita disposição que o público consegue aceder, que a controversa instala. Fria, animalesca, individualista ou libertadora, a perspetiva altera mas as imagens ficam com tal agressividade que até dói. Eis um filme avassalador e pujante.