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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A arte de amar!

Hugo Gomes, 16.11.21

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Emmanuel Mouret (“L’ Arte d’ Aimer”, “Un baiser s'il vous plaît”) não é nenhum achado, o seu cinema sempre esteve lá, nesse estilo 'rohmeriano' de filosofar sentimentos e estruturas relacionais. Mas com Eric Rohmer na mente (e no coração), muitos influenciados e imitadores têm surgido nos últimos anos, com vários apenas a manter a estética proverbial e a verborreia no mundano das situações e desventuras consequenciais.

Com isto, o leitor questionará o que de diferente poderemos encontrar neste “Les choses qu'on dit, les choses qu'on fait” / “As Coisas que Dizemos, As Coisas que Fazemos”? Digamos que, no cinema, como também na vida, o prazer das ‘coisas’ encontra-se nos seus detalhes e na sensibilidade com que o autor, com auxílio do espectador, tem com eles. Aqui, Mouret (re)descobre-se a si próprio num filme sobre afetos e sentimentos, ora romantizados, ora intelectualizados, daquilo que achamos ser o 'amor', socialmente encarado como tal.

Para a personagem central (Niels Schneider) deste rol de narrativas e peripécias rotineiras, nunca negando o seu quê de espetacularidade e caricatural, 'amor' é um acidente em cadeia que altera permanentemente a sua posição nos diferentes círculos (pessoas, profissionais e sociais), sem nunca se resolverem definitivamente (talvez seja mais por causa da cobardia dos seus protagonistas). Como tal, as retaliações são possibilidades, assim como o nascimento de novas paixões, consumadas e prometidas numa eternidade inexistente e apenas projetada.

As Coisas que Dizemos, As Coisas que Fazemos” percorre por vias de palavras essas dúvidas supostamente existenciais das personagens, que se vão cruzando e entrelaçando umas com as outras através de relato e discursos. Está feito aqui um universo a merecer ser explorado, de felizes e tristes acasos, e de conflitos discretos, de ênfases dramáticas subtilmente embutidas nos gestos, nas carícias ou nos beijos trocados antevendo despedidas.

Sensibilidade é o que é aqui pedido, porque casos amorosos todos nós vivemos, nem que seja por um dia. Dentro dos tais ditos “filhos de Rohmer”, eis um filme que é, de facto, um pedaço de céu.