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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

A Seleção Natural

Hugo Gomes, 29.03.18

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Para onde o Cinema poderá evoluir? Uma das respostas a essa derradeira questão surgiu no calor da edição de 2017 do Festival de Cannes. Aí, o realizador mexicano Alejandro G. Iñarritu orquestrou a experiência de Realidade Virtual – “Carne y Arena” – onde o espectador se colocava na pele de quem tenta atravessar a fronteira norte-americana rumo a um sonho vendido por yankees. Enquanto se celebrava uma competição recheada de nomes autorais do cinema presente, outros invocando memórias de tempos em que o futuro do Cinema não era pensado como um dilema, a instalação de Iñarritu tornou-se gradualmente numa espécie de “elefante na sala”. Seria esta a resposta para a crise cinematográfica? O salvador da Sétima Arte frente à modernização do streaming e da emancipação do pequeno ecrã? Ou seria, como muitos previram, o nascimento de uma nova Arte “vampírica” (citando João Botelho na sua relação com a natureza do Cinema)? O Cinema sem tela e a 360o?

Enfim, enquanto se espera pela realização de tais profecias, a Realidade Virtual detém, para além de um desígnio científico, um sonho humano, a catarse dos avatares, a alteração radical da nossa realidade e quem sabe da nossa própria existência. Recentemente, filmes como “Avatar”, de James Cameron, ou o mais incisivo e profundo “The Congress”, de Ari Folman, centraram, cada uma à sua maneira, esta filosofia de individualidade. E eis que surge neste panorama “Ready Player One”, a adaptação visual de Steven Spielberg da obra literária de Ernest Cline, um enredo que dispõe futuros próximos, tecnologias omnipresentes e, como já é código no cinema dito de entretenimento, os desígnios traçados do protagonista (o “The One”, para ser mais exato na designação). Assim, Spielberg dispõe de uma construção narrativa com base na estética digital, por sua vez diluindo um dos “venenos” trasladados do Cinema atual, a experiência videojogo que tem aqui o seu auge de pertinência cinematográfica. Se é bem verdade que em termos visuais este “Ready Player One" seja comparado com um novo “Avatar”, também não é mentira que estas escolhas virtuosas em prol de uma experiência, tornam o novo trabalho de Spielberg não muito longe dos habituais simulacros de feira.

Contudo, regressando a esta Terra em pleno 2045, o Homem, incapaz de lidar com a realidade, criou a Arte de forma a moldar o seu próprio realismo, neste caso, um prolongado videojogo sob os moldes dos habituais RPG. É um escape que se revela numa autêntica prisão. Contudo, o filme encontra formas de celebrar esse mesmo enclausuramento, e fá-lo tornando-se num campo de referências minado. Neste momento sentimo-nos cada vez mais distantes da década de 80, sendo que toda a sua cultura é convertida para os patamares de imunidade crítica. Por via prática, temos personagens de um novo milénio a citar constantemente essa mesma apropriação com mais fulgor e fascínio do que aqueles que realmente viveram esse período.

Em tempos que celebramos o anterior da mesma forma que o posterior (basta termos séries com valor quantitativos de marcos e easters eggs para serem elogiados, basta ver o fenómeno “Stranger Things”), “Ready Player One” usa iguais armas de uma nostalgia mercantil, mas que deve sobretudo ser questionada para os tempos de hoje em nome do individualismo (“O nosso amor vem do Mundo que nascemos e daquele que integramos ao crescer”, frase repescada de “Que le Diable nous Emporte”, de Jean-Claude Brisseau). Por isso é normal que saiamos do visionamento exclamando coisas como “o filme mais geek de sempre”, ou “vindo diretamente da nossa juventude”, mas a situação é a seguinte: sem todo este dispositivo prazenteiro, “Ready Player One” funcionaria como uma crítica sobre a (sobre) importância de outras realidades que nos comprometem a uma deterioração dos nossos laços comunicativos e sociais?

Provavelmente é o próprio filme a responder a isso através da “catchphrase” que ecoa vezes sem conta: “o criador que abomina a sua criação”. Ora, enquanto se destrói a memória de “Shining” de Kubrick, Spielberg parece desculpar-se em toda esta salganhada tecnológica que em certo sentido tenta disfarçar as suas legíveis fraquezas enquanto entretenimento cinematográfico (desde os diálogos pueris até a um cliché por aquelas bandas hollywoodescas, um terceiro ato autodestrutivo). No fim de contas, é isso. A celebração das artimanhas que sobrecarregam a indústria e a (não) proeza de confundir progresso com o acrítico.

Pequena porção, temperamento do tamanho do mundo

Hugo Gomes, 30.04.14

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Com Denzel Washington em "Heart Condition" (James D. Parriott, 1990)

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Na altura um fracasso financeiro e de crítica, hoje constantemente reavaliado: "The Cotton Club" (Francis Ford Coppola, 1984)

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Ao lado de Rhona Mitra no pós-apocalíptico "Doomsday" (Neil Marshall, 2008)

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Na distopia delirante de Terry Gilliam (Brazil, 1985)

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Foi o célebre personagem de videojogo Mário com John Leguizamo no colossal fiasco "Super Mario Bros." (Annabel Jankel & Rocky Morton, 1993)

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Como 'dono' de Jet Li em "Danny The Dog" / "Unleashed" (Louis Leterrier, 2005)

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Na Terra do Nunca com Dustin Hoffman num dos filmes menos relembrados da carreira de Steven Spielberg (Hook, 1991)

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Definitivamente o seu papel mais citado, "Who Framed Roger Rabbit?" (Robert Zemeckis, 1988)

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A sua colaboração com o realizador Neil Jordan e com a atriz Cathy Tyson em "Mona Lisa" (1986)

 

Bob Hoskins (1942 - 2014)