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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Os Melhores Filmes de 2015, segundo o Cinematograficamente Falando ...

Hugo Gomes, 27.12.15

Para dizer a verdade 2015 foi um ano produtivo em termos cinematográficos, o qual deparamos com futuros clássicos do cinema mundial e novos olhares que nos fazem acreditar na força desta Sétima Arte. Cinematograficamente Falando …, elabora as 10 melhores obras cinematográficas de 2015, um conjunto de talentos a ser descobertos, viagens vertiginosas, animações deslumbradas que revelam os nossos seres mais íntimos, e cinema que homenageia o próprio conceito de cinema.

 

10) Inside Out

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"No final, são poucos aqueles que não deixam ser dominados pela Alegria e ao mesmo tempo pela Tristeza. Um sorriso estampado nas nossas faces, consolidando com a triste beleza da derrota. A nossa derrota para com o tempo, onde as nossas preciosas memórias se desvanecem no horizonte longínquo da nossa mente. Como é tão raro encontrar um animação que nos faça sentir ... simplesmente mortais."

 

09) Whiplash

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"Resultado, em sintonia com o esforço tremendo de Mille Teller, temos um dos finais mais impares do cinema norte-americano recente, evidenciado um embate físico e psicológico entre dois actores de gerações completamente diferentes. Segundo algumas fontes, Whiplash esteve prestes a nunca sair do papel, mas quando saiu foi consagrado os prémios de Júri e de Público do Festival de Sundance e de momento encontra-se nomeado aos Óscares, nomeadamente a de Melhor Filme. Uma prova que obviamente o barulho causado pelo filme de Damien Chazelle fez-se ouvir."

 

08) João Bérnard da Costa: Outros Amarão as Coisas que eu Amei

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"Essa constante auto-analise, uma narrativa intercalada entre a linguagem própria do cinema (Ordet, de Carl Theodor Dreyer, o seu "favorito" Johnny Guitar, de Nicholas Ray, e até mesmo a mentira prolongada da cinematografia de Lubitsch) e os seus escritos lidos pelo seu filho, funciona como uma das pinceladas que contribuem para este esplendoroso retrato, o retrato de Bénard da Costa, o seu intimo hino de amor ao cinema partilhado por todos. Até porque, tal como indica o título - Outros Amarão as Coisas que eu Amei - Costa não está, nem esteve sozinho. Esta relação com o Cinema permanece intacta, cada vez mais amada, mesmo que as memórias tendem em tornar-se mais distantes, mas com imagens projetadas em tela, que tudo torna-se numa razão de existência. Do Cinema com Amor!"

 

07) Gett

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"A caricatura encontra-se de certa forma presente na descrição do tribunal, nas testemunhas que entretanto surgem em "palco", aludindo a críticas sociais, e no próprio processo ritualizado da simples facultação do divórcio. Visto como um herdeiro de 12 Angry Men, de Sidney Lumet, Gett ainda nos presenteia com um certo tom vintage. Este é um filme do qual será difícil nos divorciar."

 

06) Sicario

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"Para sermos exatos, este Sicario é tudo um pouco, um obra fabulista, um ensaio de realidade fincada, com toques variáveis de descrição dessa mesma realidade cinematográfica, um panfleto sem ser evidentemente um, ou um olhar sem julgamentos a um panorama conhecedor, contudo, mirado sob um receio pessimista (tal como é verificado no seu sublime e subliminar final, transcrevendo uma catarse aos sonhos de paz mundial que teimamos a prometer e a acreditar)."

 

05) Mad Max: Fury Road

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"Se formos descrever este Mad Max numa simplicidade quase massacrante, poderemos insinuar, e com convicção, que todo o filme é uma ida e volta, um autêntico "freak show" que não irá deixar defraudados quem tem como único propósito a diversão. Esteticamente é um novo Mad Max, porém, o modelo continua a ser o antigo."

 

04) A Most Violent Year

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"A juntar a este conto de o "Bom Ladrão", J.C. Chandor é dinâmico na sua planificação, encarando este trabalho como os pioneiros do género. Apesar de muita coisa ter acontecido de 1981 a 2014, em termos cinematográficos e de linguagem fílmica, A Most Violent Year não deve ser menosprezado. É um espectáculo violento, intenso e convicto como poucos. Façam o favor de prestar atenção neste realizador e no seu respetivo elenco." 

 

03) Birdman (The Unexpected Virtue of Ignorance)

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"Iñarritu reinventa-se, expõe-nos um filme inclassificável, um tipo de cinema de molda para cada espectador ao invés do contrário (o final é a indicação disso mesmo). O vencedor do Óscar de Melhor Filme de 2015 é uma atípica obra-prima do cinema moderno, uma parábola narrativa interdita a todos aqueles que preferem limitar à sua própria “sabedoria”. Vivemos numa sociedade de ignorantes e de hipócritas, guiados por egos injustificáveis e uma cultura desvalorizada."

 

02) The Tale of Princess Kaguya

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"Aliás é arte aquilo que corretamente devemos apelidar este The Tale of the Princess Kaguya, um festim de "paladares" para o olhar que arremata a lenda e a emancipa, adquirindo forma e vida própria em tela. Tocante, viciante, a história interminável, a fantasia possível pela animação, que por sua vez possível pela visão deste mestre. Um adeus terno, Isao Takahata deixará imensas saudades, e se vai."

 

01) As Mil e uma Noites

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"Desaparecido, enquanto corpo, porque a alma de autor encontra-se nas mais tenras veias deste Mil e uma Noites, a maior epopeia cinematográfica do cinema português."

 

Menções honrosas: Kreuzweg, Ex Machina, 45 Years, Clouds of Sils Maria, It Follows, Phoenix

Não se trata de um homem, trata-se de um amor profundo

Hugo Gomes, 04.10.15

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"O cinema precisa de ser falado" e é com obras como esta [João Bénard da Costa: Outros Amarão as coisas que eu Amei] que o diálogo entre o espectador e o grande ecrã faz-se em reflexo com o amor de outra pessoa. Manuel Mozos (Xavier, 4 Copas) incute essa paixão partilhada que dificilmente perde o seu inflamável calor da veneração, através de um envolvente registo poético que transfere a vida de um dos mais célebres (porém, ele próprio não assume), cinéfilos do nosso país. Se é bem verdade que a sua partida [em 2009] deixou a cinefilia mais pobre, aqui neste documentário preenchido de memórias, a sua riqueza identitária deixou uma herança bonificada, pronto a ser explorada.

Programador, crítico e diretor da Cinemateca-Portuguesa Museu do Cinema [a sua casa-mãe], João Bénard da Costa é uma figura incontornável para quem efetua a veneração cinematográfica no nosso país, ele foi um homem ligado ao misticismo do passado sempre em mudança e imutavelmente estampado através do retrato, as figuras que permanecem imortalizadas enquanto os nossos restos se converterem em cinzas e integram o substrato térreo. Porém, tal como se evidencia neste seu retrato, o corpo é simplesmente e dura descartabilidade, mas é a alma que vagueia por uma eternidade desconhecida mas sugestiva através do poder das imagens.

Nesse termo, "João Bénard da Costa: Outros Amarão as coisas que eu Amei" faz todo o sentido existir, e a decisão de Manuel Mozos em não construir uma singela biografia, e sim uma jornada pelo valor estético e as suas ligações primordiais com um esoterismo, não religioso, mas artístico. É pois, um filme sobre a arte, o argumento desse amor, e essa tentação cinematográfica sempre presente como um fantasma visitante, tal como é exaustivamente comparado com The Ghost and Mrs. Muir (Joseph L. Mankiewicz, 1947), um dos assumidos filmes prediletos de Bénard da Costa. É um reflexo sobre a vida além morte, com claros vislumbres à jornada de um homem feito, um eterno declarante da 7ª Arte, até aqui exposto como a forma mais viável de tornar imortal a respetiva imagem, outrora sombra de um ser vivente.

Essa constante autoanálise, uma narrativa intercalada entre a linguagem própria do cinema (Ordet, de Carl Theodor Dreyer, o seu "favorito" Johnny Guitar, de Nicholas Ray, e até mesmo a mentira prolongada da cinematografia de Lubitsch) e os seus escritos lidos pelo seu filho, funciona como uma das pinceladas que contribuem para este esplendoroso retrato, o retrato de Bénard da Costa, o seu íntimo hino de amor ao cinema partilhado por todos. Até porque, tal como indica o título - Outros Amarão as Coisas que eu Amei Costa não está, nem esteve sozinho. Esta relação com o Cinema permanece intacta, cada vez mais amada, mesmo que as memórias tende em tornar-se mais distantes, mas com imagens projetadas em tela, que tudo torna-se numa razão de existência. Do Cinema com Amor!