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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Não é só um edifício ... é História reduzida a Nada!

Hugo Gomes, 30.07.21

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Do outro lado do Atlântico há um edifício que arde, não é um edifício qualquer, é uma cinemateca, a Cinemateca Brasileira. Nela não estão apenas filmes, estão a História audiovisual de um país, que tal como acontecera há uns poucos anos com o Museu Nacional de Rio de Janeiro, as chamas consomem um país cada vez mais divorciado da sua própria identidade, desprezando os seus valores culturais e o seu legado. Dia triste, não só para o Brasil, mas para todo o Mundo, ao testemunhar Património a ser reduzido a cinzas.

James Gunn e os seus «kamikazes»: o exagero do cinema de super-heróis

Hugo Gomes, 29.07.21

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Há quem diga que o cinema de super-heróis atingiu o seu pico criativo, parece que nada mais pode ser inventado neste território, nem mesmo James Gunn com a sua liberdade adquirida nesta equipa suicida. Porém, não cobiçando quebrar quartas paredes, nem requisitar diálogos metalinguísticos ou de pós-modernismo, “The Suicide Squad” é um objeto reguila de primeira linha, visualmente febril e de um humor “screwball” em afronta às convenções estabelecidas. Talvez seja dos mais ricos alguma vez produzidos no género, há espaço para tudo aqui e sobretudo para exageros … e digamos, felizmente.

Ciclo Bong Joon-ho, um território à parte

Hugo Gomes, 28.07.21

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Em Portugal, os cinéfilos atentos que viram “Memories of Murder” (2003) durante a expansão do cinema sul-coreano no ocidente nos início da década de 2000, puderam constatar nesse filme um dos grandes trunfos dessa mesma indústria e da sua, na altura, nova vaga – “a surpresa é a arte do argumento”.

Curiosamente, tal agilidade seguiu de um argumentista convicto - Bong Joon-ho - que nesse mesmo espaço era visto como mais um nome, possivelmente à sombra de outros mais sonantes como Chan Wook Park, Kim Ki Duk ou Kim Jee-Woon. Mas com o tempo, o filme ganharia o seu espaço e a sua legião de adeptos fora da Coreia do Sul, incluindo Quentin Tarantino.

Hoje, com quatro Óscares conquistados e uma Palma de Ouro, Bong Joon-ho é uma figura-chave da atual indústria cinematográfica, erradamente encarado como fruto do sucesso global de “Parasites” (2019). Porém, a sua escalada não surgiu “ontem”, desde o seu trabalho como guionista emprestado até à revelação da sua primeira longa-metragem, “Barking Dogs Never Bites” (2000), que ostentava os elementos que o acompanhariam neste seu percurso à ribalta.

Após o sucesso conquistado pelas “Memoirs of a Murder”, Bong Joon-ho emprestou-se às bestialidades em contextos político-sociais com “The Host: A Criatura” (sucesso ainda maior - 2006), novamente maravilhando Tarantino, que não teve mãos a medir e o divulgou incansavelmente.

Conquistada a posição, o realizador operou com outros cineastas bem característicos - Michel Gondry e Leos Carax - na antologia “Tokyo!” (2008), antes de se aventurar por emancipações como “Mother: Uma Força Única” (2009) e as suas experiências em inglês com o distópico “Snowpiercer” (2013) e “Okja” (2017), este último da Netflix e controversamente integrado na Competição Oficial do Festival de Cannes desse ano.

Sociólogo graduado, é comum o realizador enfeitiçar-se por “monstros”, seja pela real denominação, seja por serial-killers, megalomaníacos ou simplesmente aristocratas, para depois os utilizar como iscos para os seus derradeiros confrontos entre classes. De forma a manter Bong Joon-ho como um território à parte e particular, a Alambique, em conjunto com a Films4You, arrancam com um ciclo que melhor reúne os gestos autorais de um dos grandes da Coreia do Sul (e não só).

 

“Barking Dog Never Bites” (2000)

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Exibido em festivais como San Sebastian, Slamdance ou Varsóvia, esta história de uma jovem mal amparada que procura um assassino de cães revela alguns dos elementos-chave do cinema de Bong Joon-Ho, principalmente na questão da diferença entre classes, aqui representada pelo tratamento “humano” de alguns cães e a “desumanidade” vinculada em alguns humanos. O realizador esperava com este cruzamento entre thriller e comédia de enganos um sucesso global, mas infelizmente o filme obteve um lançamento limitado, levando-o ao fracasso. Porém, isso não impediu que fosse resgatado e venerado.

 

“Memories of Murder” (2003)

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Baseado no primeiro serial-killer sul-coreano [nos anos 1980], “Memories of Murder” (“Memórias de um Assassino”) tornou-se a consagração do realizador e o filme que aperfeiçoou o tom dicotómico do seu cinema. É um policial “à moda antiga”, de investigações, interrogatórios, suspeitas, ciências forenses, onde os detetives são seres desesperados e ambíguos que anseiam o alívio de um caso encerrado, custe que custar, e o assassino nunca é a derradeira resolução do dispositivo “whodunit”. Bong Joon-ho admitiu ter efetuado um duro trabalho de pesquisa que se prolongou por mais de seis meses - nesse tempo não conseguiu escrever nem uma frase no guião. Um dos seus obstáculos criativos era o de não encontrar um tom e abordagem certos, e para tal inspirou-se na peça de teatro de Kim Kwang-rimCome to See me”, que também remexe nas memórias deste mediático caso. Tornou-se o filme que marcou o início da sua cumplicidade com o ator Song Kang-ho.

 

“Mother” (2009)

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Possivelmente o seu trabalho mais coerente em termos de tom. Thriller negro de uma progenitora que tudo faz para provar a inocência do seu filho, após este ser acusado de assassinar uma jovem. Bong Joon-ho apimenta a narrativa com sugestões edipianas e desafia as convenções da moralidade na pele de uma formidável Kim Hye-ja. Estreou-se na secção Un Certain Regard de Cannes e recolheu tímidos elogios, visto que esta foi a obra que sucedeu o êxito de “The Host”, que ao contrário de “Mother” exibia o seu habitual cocktail de géneros.

 

“Snowpiercer” (2013)

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Através da novela gráfica “Le Transperceneige" de Jean-Marc Rochette e Jacques Loeb, Bong Joon-ho incute o seu tema recorrente – a luta entre classes – num futuro distópico com veias de Aldous Huxley e de George Orwell. Trata-se da sua primeira produção falada em inglês (o realizador interessou-se na sua adaptação desde a pré-produção de “The Host”), contando com um elenco internacional que vai desde Chris Evans, Tilda Swinton, John Hurt, Ed Harris e como não poderia faltar, o seu ator-fetiche Song Kang-ho. É sabido que Bong Joon-ho teve alguns conflitos com o produtor Harvey Weinstein, que, segundo consta, pretendia uma versão mais frenética para o público americano. “Snowpiercer” é ficção científica delirante, violenta e reflexiva para com o valor do estatuto social e do individualismo versus o futuro da Humanidade, onde o realizador dispõe de todas as ferramentas necessárias para a salvar e mesmo assim prefere não o fazer. Culto garantido!

 

“Parasite” (Versão P&B, 2019)

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Muita tinta correu para abordar “Parasitas”, obra multi-galardoada que se tornou o primeiro filme de língua não-inglesa a conquistar o Óscar de Melhor Filme. A partir daqui adivinha-se portas abertas a toda uma diversidade de cinema e culturas para estes prémios tão americanizados. Todavia, voltando ao filme, este é possivelmente dos seus trabalhos mais complexos em termos de escrita, em que camadas sob camadas parece alterar consoante a perspetiva do espectador. Há quem encontre nesta intriga de uma família fura-vidas que se infiltram no seio de aristocratas como um drama intenso e social e outros uma comédia negra e ácida. Para além de ser o filme que converteu Bong Joon-ho numa estrela mundial, foi também a obra que posicionou o seu parceiro e ator Song Kang-ho em pé de igualdade.

Estará Shyamalan fora de tempo?

Hugo Gomes, 26.07.21

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M. Night Shyamalan perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem e a resposta alcançada é esta série B que não assume totalmente a sua natureza absurdista. Inspirado na BD “Sandcastle” [Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters], “Old” é uma construção arenosa que se apoia na incoerência e nos pesadelos comuns e coletivos como uma suposta metáfora visual. Contudo, o vento e as marés derrubam castelos e outros edifícios moldados pela areia humedecida (há mão de produtor aqui, assim acreditamos), porque se senão fosse isso a invocação se manteria até ao fim. Não podemos negar que é um filme à lá Shyamalan … sem dúvida! Agora se era o idealizado, bem, isso é outra história e em outro tempo.

Fitas, borboletas e dias de desespero

Hugo Gomes, 25.07.21

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Ame-se ou odeie (é bem verdade que na última opção continua dependente a uma vincada ideologia de como o cinema português deve ser produzido e “consumido”), Miguel Gomes já estabeleceu o seu lugar na nossa cinematografia como dos mais ambiciosos realizadores da nossa praça, como também dos mais internacionais (apenas equiparado a Pedro Costa ou o legado deixado por Manoel de Oliveira).

Com a sensação que foi “Aquele Querido Mês de Agosto”, a aclamação unânime de “Tabu”, uma canção que ressoa nos cantos e recantos do passado colonialista, o pretensiosismo discutido das “crónicas de um país triste” numa recitação de um clássico intemporal literário – “As Mil e uma Noites” – e as promessas de um projeto ainda maior intitulado de “Selvajaria”, Gomes, em plena pandemia, retorna numa trajetória contra-maré, não somente narrativamente, e sim produtiva. 

Co-realizado com a sua companheira Maureen Fazendeiro (“Sol Negro”), “Diários de Otsoga” é a cerne dos filmes de confinamento, um verité de um método de construção e igualmente de desconstrução, o qual dois realizadores e a sua respetiva equipa barricam-se numa herdade com o intuito de concretizarem o seu filme. O “filme”, esse mal-amparado MacGuffin, é a tese em elaboração de como o cinema poderá se comportar perante as drásticas mudanças sociais que condicionam o seu processo criativo, sem nunca envergar pela limitação desse quadrante, pelo contrário, a ausência e a indisponibilidade de recursos. 

Carloto Cotta (presença repetente na filmografia de Gomes), Crista Alfaiate (descoberta do realizador em “As Mil e uma Noites”) e a revelação de “Mosquito”, João Nunes Monteiro (com o desafio de distorcer a sua própria imagem) são os atores desta inversa metamorfose (em paralelização com o borboletário e do marmelo em decomposição que serve de núcleo e de termostato a esta “história”) criada em constância pelos realizadores. Aprimorado por momentos humorísticos, satíricos para com o processo fílmico (basta verificar o ponto alto em que os atores comandam o filme, “que desperdício de fita” exclama Cotta) e de puro burlesco, a veia que Gomes parece ter herdado de João César Monteiro, “Diários de Otsoga” funcionam como um exercício labiríntico de devaneios e de busca inspiracional no seu formato de aparentado caos. 

Só que, e falando na língua de Miguel Gomes, o filme é marcado com uma regressão à génese [“A Cara que Mereces”], onde verificamos novamente o fascínio pelos inventários e do cinema regulamentado pelas suas estabelecidas e rígidas regras. Ou seja, há mais controlo nesta exibida “desarrumação” do que supostamente exibe. 

Grita-se 14!! O Cinematograficamente Falando ... passa mais um ano!

Hugo Gomes, 25.07.21

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Mad Max: Fury Road (George Miller, 2015)

Em 25 de julho de 2007 tive a iniciativa, a decisão de postar tudo aquilo que comecei a escrever, sobretudo meras considerações dos filmes que ia vendo no cinema ou adquirindo em DVD. A verdade é que esta “brincadeira” começou a desenvolver e é no dia de hoje, com 14 anos de existência (mais uma pandemia) posso insinuar que Cinematograficamente Falando … cresceu e muito a falar de cinema.

A todos que o visitaram e que continuam a fazê-lo, um muito obrigado!!

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