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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

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Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

O Halloween envelhecido

Hugo Gomes, 26.10.18

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Por mais que se escreva sobre Halloween, o original de Carpenter obviamente, há que afirmar que é um filme do seu tempo, e … agora vem a parte da controvérsia … deve estar lá contextualizado. Em relação a esta “prolongação” da "facaria", os primeiros minutos são cruciais para entendermos o quanto “datado” é este Halloween. É que após anos e anos de investigação médica conclui-se que “Michael Myers é puro mal”, ou seja estamos aqui escancarados num autêntico atentado à inteligência do espectador, muito mais tendo em conta que vivemos num mundo-Trump, onde o maniqueísmo primário é servido como reação à lá Pavlov. Obviamente que jogamos por entre uma comédia involuntária, bafienta para com os já conhecidos códigos do slasher movie onde só o final parece redimir, mas encontra-se longe de salvar um filme sentenciado à pena de morte. Depois disto, o tão infamado remake de Rob Zombie possui mais dimensão psicológica. Quanto a Carpenter, o facto de aprovar isto, nota-se obviamente que tem contas para pagar.

"Soplo de Vida": citando o "noir" em negro

Hugo Gomes, 24.10.18

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Luis Ospina pode muito bem ser referenciado como um denunciador de uma realidade ocultada, a divulgação de uma pobreza extrema na Colômbia, captada para o grande ecrã, o qual atravessou o Globo, conquistando assim os mais ímpares cinéfilos. A sua forte conotação política sempre o colocou debaixo de muitos olhares, da admiração e até ao desdém, tudo orientado para o tornar num dos mais importantes cineastas da América Latina, hoje uma voz esquecida, mas sem com isso negada essa relevância. Os documentários da precariedade e de contexto social, as “reportagens” disfarçadas de ensaios cinematográficos, são tidos como as suas marcas autorais, porém, não só a realidade imprimida fez parte do seu currículo. A ficção também está no cardápio, neste caso duas fitas que realçaram, acima de tudo, a sua fervorosa cinefilia.

Se em ’82 concretizou um exercício de terror que misturava vampiros com a habitual crítica à sociedade colombiana com “Pura Sangre”, foi em ’99 que se despediu por fim desta visão ficcional. E fê-lo sem o saber em antemão, com uma homenagem ao seu género predileto, o noir. Tal como o próprio afirma com tamanha convicção, o cinema de género sempre lhe deu o prazer e dentro desse leque – diversas vezes restringido a prazeres pecaminosos por parte de muitos cinéfilos -, Ospina decide aprofundar os seus conhecimentos quanto ao universo do chamado “filme negro”. Citando o incontornável cinema norte-americano, os franceses e porque não os exemplares mexicanos, “Soplo de Vida” é fortalecido como uma revisão dos códigos dos mesmos, mas evitando por completo o formato de best hits.

Invocando à memória os célebres antepassados de Hollywood, damos por nós transportados para uma Bogotá suada e suja, embelezada pelas cores quentes que nos remetem automaticamente aos trópicos ao invés das cidades frias, enevoadas e contrastadas com as pálida pele dos seus artistas na indústria que tão bem conhecemos. A voz-off está lá, como “manda a sapatilha”, a narração por parte de uma polícia renegado, agora convertido em investigador privado de gabardine “melvilleano“, Emerson Roque Friero (como gosta de ser chamado), pronto a recontar o seu Caso. Colocamos em maiúscula para enfatizar o signo detectivesco, o Caso é a essência da medula de qualquer investigador do noir. Singular e ao mesmo tempo pluralizado e homogéneo, este, com toda a previsibilidade, envolve uma mulher (quiçá, duas).

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Por entre flashbacks, dentro de mais flashbacks (a separação entre as camadas temporais distingue-se pela sua fotografia), “Soplo de Vida” percorre todos os lugares-comuns do subgénero; as femme fatales (Flora Martinez), as identidades trocadas, a corrupção e politicas à mistura, a amargura melancolizada, as juras de amor ditas em cenários criminosos e a água ardente (aqui a substituir o eterno whisky com gelo). Mesmo sob o efeito de contraste, Luis Ospina mimetiza os códigos, fazendo questão de relembrar ao espectador que o que está a ver não foge da mera reciclagem. “Os mortos são todos iguais”, assim é afirmado na morgue perante as vítimas da violência mundana, citação que encontra cumplicidade num outro desabafo: “os homens são todos iguais, não existem nem bons, nem maus, apenas homens”. Possivelmente, poderíamos terminar por aqui colocando um ponto final na equação, é um mero exercício, não de estilo, mas de memória cinéfila e Ospina passou o teste, confundindo-se com o protagonista, caracterizado como “um homem de princípios (…) e de fins”, de ideias e de resoluções.

Crimes passionais e a ambiguidade costumeira, dois elementos (que não chegamos a mencionar acima para o bem do suspense) que se entrelaçam com um humor algo caricatural e brejeiro, retalhado pelas lembranças e transformados em idiossincrasias para qualquer freguês jubilar (o universo queer colombiano atado a um curioso olhar “Almodovariano”). Por fim, as doses claras de inserção social, um prisma imundo dos necessitados e dos incapacitados (mais uma vez fere em contraste com o formalismo americanizado). É a marca de Ospina a pesar neste cenário onde ninguém sai ileso, até mesmo o “punchline”” confiante ousa em ferir os mais “novatos” com alusões sexualizadas:  “sempre me privei dos investigadores privados” .

“Soplo de Vida” não esconde os seus baixos recursos e a tendência de “desenrasque” da sua produção. O realizador afirmara que os seus filmes são “baratos” e que a liberdade tem um preço baixo a pagar. Infelizmente, mesmo sob o rótulo de pechincha, esta série B foi um fracasso no box-office, forçando um desinteresse de Ospina na ficção e regressando ao que tão bem soube fazer até então, mostrar a Colômbia desconhecida e proibida. Diremos que, com o auxílio do Génesis, esta sua derradeira e segunda ficção, resolve-se como um “faz-de-conta” a entidades divinas, cujo sopro atribui vida a uma moldado pedaço de barro. Por outras palavras, tudo não passa de uma experiência.

Nós paranoicos, sofremos o dobro

O luto que falta!

Hugo Gomes, 22.10.18

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Rithy Panh prossegue na sua demanda pessoal e igualmente identitária de um Camboja que ousa em não ser esquecido, principalmente no seu registo cinematográfico. Depois de “The Missing Picture” e “Exil”, o realizador retorna às suas histórias pessoais para exorcizar o “Karma pesado do Camboja”, os horrores cometidos por um regime intolerante e ditatorial e os testemunhos (para além do seu) que perpetuam o fantasmagórico tecido da ocultação.

São relatos impressionantes e raros, novamente sublinhados pela insaciável busca do autor em conduzir toda uma memória em imagens, que aqui não faltam. Existe a criação dessas, nem que seja pelo diálogo direto da fotografia, as únicas provas de vidas passadas e obliteradas. São pessoas exclusivamente para serem “espancadas e deitadas foras” (o termo segregativo de Vay Tchaol), prisioneiros de quotidianos forçados que as reduzem a objetos viventes, arrastados por uma automatizada noção de sobrevivência (os avisos quanto à necessidade de “comer carne para sobreviver” que levam a não intencionais atos de canibalismo) e contidos aos seus “mundinhos” de miséria (quando o sal se torna a traição de um grupo de subsistência). Elementos que vão contaminando a poesia atentada de Panh que avança em paralelo por cemitérios sem dono, ao encontro de espíritos condenados a uma eternidade em vão. E por entre as florestas, que o próprio evidencia neste documento, habitadas por almas violentadas, as árvores sangram, as mediums choram pelos seus entes queridos e as máscaras confundem cada vez mais com a vegetação.

Lutando com as imagens, continuo a chorar”. “Graves without a Name” é um objeto pessoal, sentido e vivido, e com isso, não desfazendo a sua devoção pelo cinema, Rithy Panh vai além do simples relato, vai atrás da imagem que possa fazer jus a tais palavras. Felizmente, visto que falamos de realizadores vinculados às suas causas e História, Panh não é um Wang Bing, evita a sua passividade nua e aufere dignidade ao seu ativismo.

“Tirei tantas imagens para me esquecer que estava morto”

A esperança está na nova geração

Hugo Gomes, 21.10.18

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De Michael Moore aprecio o seu humor, até porque nunca o considerei um sujeito muito neutro (Sicko é um grande exemplo disso), mas em Fahrenheit 11/9, possivelmente, deparei-me com o seu filme mais ambíguo e pessimista.

Contudo, encontrei réstias de esperança na sua "América" que tão bem refletem o resto do mundo. Simplesmente, porque estes ciclos de extremismos e de ódios são apenas isso ... ciclos, e tal como Orwell escrevia no seu 1984 - "A esperança está nos proles" - eu readapto para a "a esperança está nos ‘miúdos’". Ao ver jovens a interessar-se na politica e nas questões sociais com tamanha compreensão e Humanidade me faz pensar que poderemos até contar com um futuro risonho, basta simplesmente que as gerações mais antigas, neste momento os DDT da Vida (Donos Disto Tudo), deixem de existir e “rezar” para que as suas ideologias do “arco da velha” não se transmitem para os descendentes. Enfim, são esses novos que serão num futuro próximo melhores seres humanos que os anteriores (refiro aos mais antigos), sublinhando sobretudo a minha geração o qual ainda testemunho resíduos de ódio irracional e extremismos sem pingo de sobriedade e com absoluta compostura no patriarcado.

Não sou de comentar politicas nas redes sociais (visto que isto anda tudo saturado), faço apenas o apelo a que estes ‘rebentos’ resolvam a tempo as merdas que nós cometemos e que continuamos a cometer.

Pelas fronteiras do vazio!

Hugo Gomes, 21.10.18

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Encaramos como poesia abstrata um homem moldavo [Kolya] que vai ao encontro dos fragmentos de uma antiga nação de forma a promover uma nacionalidade inexistente (Transnístria). "Extinção", um dos mais recentes trabalhos de Salomé Lamas (“El Dorado XXI”), depara-se com questões identitárias para se envolver em elementos tão precisos na filmografia da realizadora – os “não-locais”, as ditas “terras de ninguém” – ou seguindo as condutas do cineasta e poeta F.J. Ossang, “o Cinema parte de territórios e de como podemos distorcer essas fronteiras”. Mas essa inteiração de distorção da nossa geografia ou despir o reconhecível com o irreconhecível, parece materializar-se com os dilemas de uma URSS extinta, porém, de espírito assombrado e ansioso por uma silenciosa ressurreição.

Geopolíticas à parte, Salomé Lamas evidencia investigação no terreno e de forma a conduzir-se fora dos formatos estruturais do documentário, encontra no eclético a sua solução. O resultado é um ensaio, um mero artifício visual que desapega do seu corpus de estudo e que abandona, em certa parte, a coerência do seu discurso. Assim sendo, "Extinção" exibe a criatividade do olhar, o reencontro com a ferrugem e a ruína da paisagem captada para metaforizar a decadência de um Império, ao mesmo tempo que adquire a audácia de seguir em fronte a uma investigação nas sombras. Sim, entendemos perfeitamente onde Lamas quer ir e atingir, mas o rodopiante embelezamento leva-nos à instalação brutalistas acima de uma mostra do seu curso empírico. Continuando então a persistir na alegoria do discurso ao invés da natureza deste, ao perceber que por vezes as imagens operam de maneira autónoma a esse registo (ao contrário do estruturalismo de muitas das vagas de 20 e 60, Salomé Lamas tenta lançar o visual como cúmplice de um discurso).

Infelizmente, “Extinção” prolonga uma passividade que nesta altura do campeonato não prevíamos em Salomé Lamas. Enfim, uma proposta entendida entrelinhas, cuja beleza estética não faz jus à pesquisa elaborada. Que pouca resposta nos dá, mas, mais que tudo, menos perguntas incentiva.

Espaço ... o último sentimento

Hugo Gomes, 19.10.18

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Será que precisávamos de um filme sobre os “inigualáveis” feitos de Neil Armstrong, a sua odisseia até à Lua que culminou no tão imortalizado “um pequeno passo para um homem, um grande passo para a Humanidade”? De biopics formatados e filmes glorificadores até nós andamos saturados perante uma seleção homogénea e de caráter propagandista (diversas vezes), que nos levam a questionar o porquê da existência deste tipo de produções. Para tal, atirávamos de cara à descrição simplista e incisiva de Quentin Tarantino, na qual dizia que as cinebiografias são “desculpa para atores ‘paparem’ Óscares”. Neste caso, salienta-se que Ryan Gosling está longe da cobiçada estatueta de interpretação e, em certo ponto, aleluia por isso pois em “First Man” prevalece um filme sobre um estudo de uma persona e não a mera esquematização do “aventurado” astronauta.

A trajetória do quarto filme de Damien Chazelle segue em sentido inverso àquilo que poderemos prescrever num projeto como este, referindo sobretudo o luto, o conflito em que a obra persiste, deixando o memorável feito para eixos secundários. Sem querendo com isto assumir uma variação de “The Right Stuff – Os Eleitos” (os bastidores da NASA a prolongam-se como enquadrantes da personalidade), mas “First Man” (“O Primeiro Homem na Lua”) inicia com um homem determinado a deixar a sua marca para automaticamente se converter na narrativa de um ser solitário que se refugia ao abrigo das estrelas, cercado pelos sentimentos que nem o próprio compreende.

Nisto, eis um filme que deixa transparecer uma camada de frieza, porém, existem sentimentos nesta gélida carapaça e é aí que a inexpressividade de Gosling embate como uma reação física a essas questões semióticas. Possivelmente o filme tenta encontrar um meio termo nessa demanda intimista, de forma a tornar-se perceptível aos demais mortais e através dessa conciliação. “First Man” prolonga-se para além da sua duração necessária, recorre a “maliquices” (o nosso “carinhoso” adjetivo para aspirações a Malick) no seu registo de felicidades familiares (o persistir nos movimentos curvais da câmara e das interações captadas pelos diferentes membros) ou nas recordações-flashbacks de modo a situar o espectador mais distraído. Sim, há aqui todo um nervosismo em narrar a biografia de um “herói” sob um diferente prisma e nisso enfraquecemos uma obra tecida com o tamanho detalhe, quer pré, sob e pós. Há uma investigação que dá frutos, Damien Chazelle e a sua equipa aventuram-se e desventuram-se na biografia pessoal de Neil Armstrong, escrita pelo jornalista James R. Hansen, bem como uma pesquisa autodidata em compreender para depois construir um arquétipo do “verdadeiro” Neil.

O resultado está à vista e não é preciso qualquer telescópio para o ver; a história de um homem que evita o contato, sobretudo afetivo, de forma a tentar decifrar o desconhecido inerente, o pesar que sente e que dificilmente reage. A fórmula contida que encontra na Lua, a isolação como um Robinson Crusoé das estrelas, como a maior das metáforas (e aqui não estamos a julgar quem acredita ou não em tamanha expedição, o que interessa é a força da ficção no seu território simbólico). O último plano é a força disso, desse afeto negado pela falta de apreensão interior.

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Todavia, se em “First Man” deparamos com essa instrumentalização da personalidade de Armstrong, é-nos impossível não falar da composição estrutural desta odisseia pelo espaço, ou, a sua tentativa de sê-lo. Ao contrário de recentes incursões espaciais como “Interstellar” ou “Gravity”, é no filme de Damien Chazelle que deparamos com a fenomenologia da viagem, alicerçada sobretudo na edição, assim como o jovem realizador havia executado num dos trabalhos mais elogiados (“Whiplash”). Ao contrário das batidas sentidas com a frustração e ambição do protagonista do filme de 2014, somos agressivamente “acariciados” com uma câmara refém da sua cápsula, sensível para qualquer movimento induzido pelo dispositivo cénico e com isso, a capacidade de transmissão sensorial.

Diríamos que “The First Man” é um jogo de sensações, orquestrado, não só com o auxílio da edição visual, mas da própria sonoplastia. O aço que tirita, aqueles parafusos que parecem ganhar vida através de emudecidos rugidos, o som ambiente que se reduz à inexistência, a respiração ofegante de Gosling, sentido em embate com o limite do seu capacete. O “Ground Control to Major Tom”, da canção “Space Oddity” de David Bowie ( não está aqui, mas é como estivesse, é a nossa memória a pregar partidas, porque neste momento lado-a-lado com este Neil na sua preparação à viagem e não fora do ecrã a observá-lo como um objeto de exposição. É a maravilha do som, a sua mistura que ecoa na sala de projeção, apenas interrompida, em alguns casos, pelas doces melodias de Justin Hurwitz (partitura suave e de acordes hollywoodianos). Enfim, é a obra que se confunde como uma viagem, aliás, duas, o íntimo e o físico, mas só uma torna-se crucial para este homem, personagem e sobretudo espectador.

Por isso, deixem-me defender o Damien Chazelle (que tão crucificado fora pela incompreensão à volta de “La La Land”). Deixem-me sublinhar o seu nome como um dos jovens mais talentosos de Hollywood na atualidade. Simplesmente deixem-me, porque o ‘moço’ tem também uma grande viagem a fazer.

Entre margens ...

Hugo Gomes, 18.10.18

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Presenciar a passagem da curta para a primeira longa metragem é uma sensação semelhante a de uma familiar exclamar com surpresa: “olha só o quanto cresceste!”. Nesse sentido podemos afirmar que Leonor Teles cresceu ao ponto de conseguir ritmar um filme com 80 minutos de duração, tudo, tendo como antecedente uma “prank” que (in)voluntariamente se converteu num ato ativista contra o preconceito e a discriminação [“A Balada de um Batráquio”].

Obviamente, como já devem saber desta história, o experimento foi recompensado com o Urso de Ouro da Curta-Metragem no prestigiado Festival de Berlim (não é para menos). Em “Terra Franca”, Teles não amadureceu devidamente como esperávamos, no que requer a encontrar uma nova linguagem no panorama documental português, mas convenhamos que toda esta pesquisa filmada é vista com entusiasmo, até porque a realizadora tem um golpe de sorte (ou não, mas quem sou para determinar a consciência do gesto). Essa fortuna deriva do seu “objeto” de estudo, um achado por si.

Falamos de Albertino Lobo, um pescador que reside numa antiga comunidade piscatória no Tejo. O filme tende a acompanhar as quatros estações, na prática, um ano da sua existência. Tinha tudo para falhar, mas novamente buscando o ponto crucial, temos uma personagem e tanto (referimos isto com um sorriso elogioso). Desde a sua humildade que nos leva a um certo tradicionalismo português, até ao olhar expressivo de um homem que teme o futuro, mas que o vê não como um trilho individual, mas algo conjunto e sobretudo familiar (a família que se vai construindo e reconstituindo).

Albertino é um lobo do mar … vá … um lobo do rio, constantemente dividido pelo magnetismo da água e dos elos afetivos que o aguardam em terra. O homem castiço faz o filme e Leonor Teles segura-o. É um bom sinal e, ao contrário do protagonista, o futuro poderá não ser um “bicho de sete cabeças” para a nossa realizadora. A ver vamos.

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