Uma guerra de collants
Steve Rogers (ou melhor Capitão América) reencontra o seu amigo de infância, agora inimigo da SHIELD e da “ordem mundial”, Bucky Barnes, num apartamento em Berlim. Neste secreto encontro, Bucky tenta convencer o nosso herói da sua inocência quanto a um tenebroso atentado à Sede das Nações Unidas, cujas provas apontam para o seu envolvimento. Entretanto, surge a notícia de que tal edifício está cercado pela polícia de intervenção alemã e a única forma de ambos escaparem da massa policial é através dela. Bucky garante ao nosso amigo “que não irá matar ninguém“. As sequências seguintes são de uma brutalidade avassaladora, o denominado Soldado do Inverno e o Capitão América tentam evadir do prédio, golpeando, atirando “borda-fora” e fortemente batendo nos ditos policiais. As imagens são evidentes, são poucos os que conseguem resistir a tais golpes. Toda esta cena vem provar o que não precisa ser provado, estamos perante a um filme inconsequente nos seus atos. Tudo muito bem, o problema é quando se joga com política.
A Marvel prometeu uma Guerra Civil, baseada numa homónima série de BD, porém, o resultado é deveras dececionante. Como já referi, neste franchise da Disney o terreno é fertilmente político, digno do “cinema adulto”, mas o que consegue é um ensaio pueril que brinca com as ditas políticas da mesma forma que movimenta figuras de ação. Tudo começa com uma chamada aos tempos da Guerra Fria, que depois dos nazis disfarçados que foram a organização antagónica HYDRA, chegam-nos os fantasmas da União Soviética, com o modelo do Candidato da Manchúria como primeira base.
O anterior Soldado de Inverno continua a fazer das suas, integrado em mais missões terroristas que servem de pano de fundo para uma conspiração global. Mas o problema não está nos vilões “vermelhos”, mas sim nos próprios Vingadores, cada vez militarizados e convertidos em forças especiais a operar nos locais mais remotos em defesa de um estilo de vida próprio, o qual acreditam piamente. Depois de uma missão que terminou em tragédia em Lagos, Nigéria, vitimando mais de uma dezena de civis, as Nações Unidas engendram um plano, não para destruir a iniciativa dos Vingadores, mas destituir os seus poderes e a liberdade destes, sendo que a única solução é uma interligação à NATO, na qual só operariam caso fossem precisos ou convocados.
É um registo teoricamente interessante seguir este território pantanoso no subgénero de super-herois. Christopher Nolan conseguiu-o parcialmente com a sua trilogia protofascista [“The Dark Knight”] e a última estância da DC Comics [“Batman V Superman”] sombreia a responsabilidade da imensidão dos poderes num só indivíduo. Mas a Marvel, ligada à sua Disney, apenas consegue proclamar ideologias intervencionistas e imperialistas no seu Capitão América, confundindo-as com alusões de liberdade individual e em políticas maniqueistas, deixando na “margem do prato” as ambiguidades. “Civil War” vai ao encontro dessas doutrinas e crenças, transformando o Homem de Ferro e os seus “seguidores” (que recrutam um adolescente de 15 anos alheio ao conflito) a tomarem responsabilidades governamentais, como os verdadeiros vilões da fita. Com “brigas” atrás de “brigas”, o filme acaba por transmitir uma visão de um Mundo e esta “realidade” é estabelecida como a mais correta das verdades.
Conclusão, temos super-herois politicamente perversos ao serviço de um argumento inconsequente que parece ter sido escrito por uma criança de 5 anos com toda aquela harmonia típica da Disney. Conforme são as nossas ações e posições, acabamos por ser todos “amigos” perante uma causa comum. A moralidade no seu “melhor“!
Mas o pior é que como é um filme de super-herois bem oleado, ninguém leva a sério estas politiquices jogadas num só norte. Infelizmente, é por estas e por outras que, com a ajuda dos ávidos seguidores de BD, filmes como estes são venerados e aclamados como produtos cinematográficos de requinte, até porque o que interessa é saber quem ganha no confronto Capitão VS Homem de Ferro, e o Homem-Aranha, “enfiado a martelo”, apenas presente para providenciar futuros capítulos (um registo imaturo que só vem a provar para quem são direcionados este tipo de produções) .O restante é simplesmente “peanuts”.