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Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Cinematograficamente Falando ...

Quando só se tem cinema na cabeça, dá nisto ...

Talking Heads!

Hugo Gomes, 27.02.15

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Freddy Vs Jason (Ronny Yu, 2003)

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Alien (Ridley Scott, 1979)

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The Voices (Marjane Satrapi, 2014)

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Dragon Ball Z: The Return of Cooler (Daisuke Nishio, 1992)

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Re-Animator (Stuart Gordon, 1985)

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Hausu (Nobujiko Ôbayashi, 1977)

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Return to Oz (Walter Murch, 1985)

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The Brain That Wouldn't Die (Joseph Green, 1962)

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WR: Mysteries of the Organism (Dušan Makavejev, 1971)

Cinematograficamente Falando ... apresenta: Top Eróticos

Hugo Gomes, 21.02.15

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Não caiam no erro, cinema erótico não é o equivalente a pornografia, e sim uma arte que acima de tudo se deixa deslumbrar pela luxúria, pela sensualidade dos corpos e a aura tentadora que emerge nelas. Uma antiga relação amorosa que remonta-nos aos primórdios do cinema, mais concretamente com os testes de footage de Eadweard Muybridge (1884 - 1887), a partir daí o cinema ficou fascinado com a versatilidade e a beleza dos corpos humanos, da sua delicadeza até à sua robustez, tentando combater as eventuais censuras em prol desse adultério para com os bons valores. Mesmo nos dias de hoje o cinema erótico é visto de certa forma como uma minimização da pornografia, mas enquanto esta evolui para territórios mais jubilantes e menos cinematográficos, o erotismo se comporta como um género rebelde, pronto a causar controvérsia, e sobretudo a minimizar a distância do seu público para com as suas mais intímas fantasias e à temática sexual que a sociedade tanto quer esconder.

E como o cinema erótico tem tanto para mostrar, obras cinematográficos ímpares de gerações, estilos e narrativas, o Cinematograficamente Falando … em colaboração com Nuno Pereira do site Cinespoon (ver aqui) e Roni Nunes, João Miranda e André Gonçalves do C7nema (ver aqui) decidiram elaborar um Top das Melhores Filmes Eróticos até à data, com influência da estreia de Fifty Shades of Grey. Uma lista que reúne os mais diferentes mestres da cinematografia, desde Cronenberg a Verhoeven, Ozon a Bertolucci, todos eles contribuíram para a imensidão da onírica luxúria e a fantasia pessoal de cada um. O imaginário do espectador poderá ser assim levado para fora dos limites da perversão ou até mesmo da divindade sexual.    

 

#10) Les Anges Exterminateurs (Jean-Claude Brisseau, 2006)

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Um híbrido entre fantasia masculina com autobiografia, metaforizando as memórias do seu autor, Jean-Claude Brisseau, sob pseudónimos e muito erotismo onírico. Les Anges Exterminateurs é o apogeu de uma busca interminável de um homem pelo que mais de divino possui a mulher, o derradeiro orgasmo. No segundo capítulo da trilogia Tabu, nunca os corpos femininos obtiveram tamanha sensualidade e intimidade. Um retrato intimista, a segunda chance de um realizador "humilhado" em praça pública, mas mesmo assim, apaixonado pelo seu símbolo de tentação. Hugo Gomes

 

#09) Shame (Steve McQueen, 2011)

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Steve McQueen navega em território erótico, porém aquilo que conseguiu cometer foi um ensaio frigido da ninfomania. Em Shame não temos fantasias, devaneios, nem sequer "mundos encantados", tudo é retratado num quotidiano obsessivo e desesperado. Michael Fassbender é essa loucura do degredo em pessoa, o "peão" em queda livre para as profundezas da luxúria. Para além do seu marcante desempenho, temos ainda uma frágil Carey Mulligan como boneca de desejo. Vergonha é dos poucos filmes que aborda a ninfomania como a doença que é. Hugo Gomes

 

#08) Crash (David Cronenberg, 1996)

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O desejo é fluído. Desliza sobre as geometrias urbanas e concentra-se nos pontos de contacto entre as pessoas. Quando as linhas que os automóveis desenham sobre estas superfícies se cruzam, este explode em estilhaços como os vidros e os ossos. Crash é um filme sobre estas explosões e sobre a sua procura. Numa sociedade que pretende formatar as interacções pessoais e o desejo ele próprio, este manifesta-se por vezes de formas surpreendentes. João Miranda

 

#07) La Bête (Walerian Borowczyk, 1975)

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Esse clássico absoluto e escandaloso do aliciante cinema erótico dos anos 70 trazia uma fantasia, uma sensualidade e um humor que praticamente não se encontra no cinema actual. A acção se precipita quando uma inocente beldade da nobreza inglesa vai à França conhecer o noivo ao qual estava prometida. Ocorre que este é estranhíssimo e o castelo do seu sogro esconde mais do que os retratos de uma geração nobre na parede. Para além de um erotismo cheio de classe, tem uma inteligência invulgar, um enorme sentido de humor e uma escandalosa associação da sexualidade humana como uma bestialidade atávica, o suficiente para deixar os conservadores da altura de cabelos em pé... O autor da façanha foi o polaco exilado em França, Walerian Borowczyk, responsável também pelos magníficos Contes Immoraux, que lançaria dois anos depois. Roni Nunes

 

#06) Nine 1/2 Weeks (Adrian Lyne, 1986)

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Só por ter sido o principal difusor da gastronomia corporal como preliminar, já merecia um lugar neste top 10. Que Nine 1/2 Weeks tenha de facto uma história realista e hipnótica de uma relação que se vai tornando obsessiva por detrás dos seus grandes momentos mais badalados – realço, para além da icónica sequência gastronómica, o "strip" igualmente icónico de Kim Basinger ao som de "You Can Leave Your Hat On" de Joe Cocker - é um pequeno milagre. André Gonçalves

 

#05) Secretary (Steven Shainberg, 2002)

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O Amor é polivalente. Perante as imagens culturais e mediáticas que nos limitam, por vezes é difícil compreendê-lo sem o julgar ou o considerar bizarro. "Secretary" é uma história de amor diferente, que surpreende tanto os espectadores, como os seus participantes. Um filme que recusa o amor romântico que enche os ecrãs, os livros, as músicas e os postais, mas que recusa também qualquer etiqueta. João Miranda

 

#04) Lucia e El Sexo (Julio Medem, 2001)

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O cinema latino é mais facilmente associado a tópicos mais "calientes" é certo, mas Lucia e El Sexo destaca-se dos demais, ao usar máximo efeito a sensualidade dos atores (Paz Vega emergiria deste filme como uma das grandes revelações latinas da década), o ambiente envolvente - neste caso, a paisagem mediterrânica - e a sua meta-narrativa fantasiosa, como estímulos altamente irresistíveis, e tão eróticos como intelectuais. André Gonçalves

 

#03) The Dreamers (Bernardo Bertolucci, 2003)

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Em pleno verão quente de 68, durante as manifestações estudantis em paris, uma tríade (estudante americano, casal de irmãos franceses) nasce. Em The Dreamers temos verdadeiramente o que a cine-arte devia ser. Sob uma temática altamente relevante, é pintado um quadro, com Eva Green como musa inspiradora, uma verdadeira Venus de Milo. Nuno Pereira

 

#02) Swimming Pool (François Ozon, 2003)

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Toda a inteligência de François Ozon é expressa nesta obra. O centro é a relação peculiar entre uma escritora inglesa que procurava inspiração na sua casa no sul de França, mas em vez disso encontra inquietação nos braços da sua estranha filha. Aqui o destaque maior recai sobre os diálogos arrojados e o clima profundamente sexual e misterioso, mérito para a dupla protagonista, Charlotte Rampling e Ludivine Sagnier. Nuno Pereira

 

#01) Basic Instinct (Paul Verhoeven, 1992)

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O filme que encerra a fenomenal epopeia de Paul Verhoeven com capitais americanos - antes de se afundar com "Showgirls" e o "Hollow Man". Os seus temas favoritos (a culpa, o pecado, a consciência, a perversão) ganham uma abordagem de luxo numa intrincada trama policial que contava com uma Sharon Stone num estado de graça e a bater em sensualidade e inteligência qualquer femme fatale da história do cinema. Além dela, a sua curvilínea amante Roxy (Leilani Sarelli) acrescentava um charme lesbian chic à história, que incluía requintadas cenas de sexo e a fabulosa sequência do interrogatório, onde um espectáculo de montagem e movimentos de câmara culminava com uma das cenas mais famosas do cinema recente - a do cruzar de pernas. Nunca mais se veria Sharon Stone assim - ainda que a sua fulgurante participação em "Broken Flowers", de Jim Jarmusch, servisse parcialmente de consolo. Roni Nunes

 

Menções Honrosas

Ai no Korîda (Nagisa Ôshima, 1976)

Contes Immoraux (Walerian Borowczyk, 1974)

La Vie d'Adèle (Abdellatif Kechiche, 2013)

Nymphomaniac: Director’s Cut (Lars Von Trier, 2014)

Uomo che Guarda, Le (Tinto Brass, 1994)

"The End is Near!"

Hugo Gomes, 12.02.15

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"O Fim está próximo". Pelo menos é desta forma aclamado no início deste “Videofilia (y otros síndromes virales)”, um experimento que incute uma mensagem que a esta altura do campeonato todos têm conhecimento, mas que infelizmente grande parte ignora. Refiro-me à ausência de contacto físico como consequência dos avanços tecnológicos, nomeadamente a Internet e todo o seu meio virtual, essa "maldita invenção" que tem servido de alternativa a muitos dos nossos gestos quotidianos, até mesmo em questões sexuais. Contudo, nesta obra do peruano Juan Daniel F. Molero, a mensagem não é oferecida ao espectador como algo adquirido ou uma moralidade que antecede o "The End". O objectivo aqui não é o de recriar um panfleto pedagógico mas antes colocar quem assiste numa experiência sensorial e subliminar, mesmo que os "alvos" sejam mais que evidentes.

Mas então o porquê da citação do "Fim"? Qual a razão do Apocalipse que é mencionado na cena inicial? Os eventos proferidos por um jovem, gravando para a posteridade essa inesperada ocorrência, que, segundo este, marcará a sociedade como nós as conhecemos? Os Maias profetizaram esse derradeiro desfecho, mais tarde lido como uma transição para uma Nova Era. Por mais que tentamos descredibilizar esse dom de adivinhos e profetas, estes realmente desvendaram essa mudança, um futuro negro, mais individualista, constrangido e isolado no seu sedentarismo tecnológico. Mas o "Fim" não é esse, e sim a alusão presente num dos "castigos divinos" incutido na obra lá bem para o seu final.

Enquanto isso, somos presenteados por uma narrativa inventiva e psicadélica, brincando com "glitchs", pop-ups e pixéis para tornar menos perceptível a atual diferença entre Cinema e o mundo da informática. Talvez essa fusão seja o futuro da Sétima Arte e “Videofilia’” um dos incompreendidos pioneiros dessa linguagem visual. Violento nessa abordagem, Juan Daniel F. Molero conseguiu um assombroso ensaio cinematográfico cuja mestria não está no seu conteúdo, antes na forma como o expõe e se expõe. Uma experiência!

Falando com Till Kleinert, um jovem na companhia do "Der Samurai"

Hugo Gomes, 03.02.15

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Der Samurai (2014)

Em “Der Samurai” (“O Samurai”), Till Kleinert construiu um filme barroco, alusivo e metafórico que joga com diferentes elementos do folclore alemão e não só. É uma obra complexa que evidencia um talento obscuro, visto ser a segunda longa-metragem do jovem germânico.

O Cinematograficamente Falando … teve a honra de conversar com a revelação, tentando com isto, desconstruir a sua obra, identificando as suas marcas. Kleinert revelou-nos mais que isso: os seus projectos, os seus medos, fantasias e a sua adoração pelo género do terror. No final, deixa mesmo algumas recomendações…

Esta foi a sua segunda longa-metragem. Como foi a experiência?

Não é muito diferente de fazer curtas-metragens, apenas o processo é maior e o trabalho mais contínuo. Para tal, temos que aprender a negociar a nossa energia, porque gravar catorze horas diárias torna-se bastante cansativo após várias semanas. Por isso eu tento não ficar tão exausto, por mim e para a equipa de rodagem. De resto? Não sei, costumo ser feliz quando estou a trabalhar num filme. Mas sim, basicamente é uma experiência idêntica a de uma curta-metragem.

Como surgiu a ideia para “Der Samurai”?

Os meus projetos surgem através de uma imagem chave, como uma situação ou simplesmente uma imagem que tento configurar durante o processo de criação. Aí tento perceber em qual género encaixa e que tipo de filme desencadeará. Por isso eu não sei nada sobre a história. Esta imagem [“Der Samurai”] surgiu numa viagem de comboio. Imaginei uma pequena cidade alemã, meio rústica, meio moderna, rodeada por uma floresta e no meio uma figura sombria a vaguear por essas mesmas ruas a ameaçar e a desafiar as autoridades. Apenas apareceu, sem que  eu soubesse o que significa ou porque estava lá. Vi essa imagem e pensei: “isto é fantástico, gostaria de ver esta figura a percorrer essas ruas e vilas”. Por isso tentei associá-la a uma história que funcionasse. Foi mais ou menos isto que se sucedeu.

Porquê uma espada japonesa?

Essa imagem apareceu-me visualmente semi-formada, por isso tentei configurá-la, assim como a espada japonesa, que também surgiu. É como sonhar. Nós temos uma razão racional para o sonho? Podes tentar sempre analisá-los, mas isso não significa que haja razão para tal. Então acho que durante a minha análise, existe qualquer coisa envolvente nas espadas e outras armas que atraem pessoas marginalizadas. Como na Alemanha as pessoas estão no pico da ira e tem que libertá-la de qualquer forma, talvez em destruir algo ou agredir alguém que odeiam.

Podia procurar um artigo de jornal sobre o tema, mas provavelmente não existiria uma katana no meio. Penso que a espada funciona como um combustível, uma fantasia fetichista da vingança. Também porque joguei muitos videojogos enquanto era mais jovem, principalmente RPG (Role Playing Games) japoneses, onde os vilões são tipos grandes de cabelo comprido e sempre munidos com espadas. Quando pesquisei no Google, encontrei traços que gostaria de expor no filme. Mas pessoalmente, interpretando toda esta ideia do filme, se a personagem “heróica” somos nós, o outro tipo é uma representação selvagem de nós mesmos. É algo muito próximo daquilo que eu “sonhei”. Bem, novamente refiro, não existe algo racional em toda esta combinação de elementos.

A representação do lobo, tem influências com as fábulas alemãs?

Sim, obviamente. É como o Capuchinho Vermelho para mim. O lobo é supostamente um símbolo de toda a repressão afetuosa. A minha interpretação sobre essa fábula é que há sempre um homem (ou alguém) que pretende ter sexo contigo. Tal retrato já fora mostrado em “The Company of Wolves”, de Neil Jordan. Nesta versão o suposto lobo é um homem que tenta tirar a virgindade dela. Essa virgindade é o seu isco. É um símbolo de algo selvagem, uma tentação, um impulso que corre por excitação e, sim, de agressão sexual. Mas ao mesmo tempo neste filme queria ligar isso ao realismo, factos que estão a acontecer na Alemanha neste momento. Por isso refiro o regresso dos lobos à Alemanha. Estiveram quase desaparecidos por mais de 100 anos e agora estão a retornar às fronteiras europeias. 

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Till Kleinert

Li num jornal acerca deste regresso e o medo das pequenas aldeias e cidades destes, visto que receiam que ataquem os animais. É algo de verdadeiro que está a acontecer. E é engraçado porque na verdade o que os ajudou a estabelecerem-se no território foram as bases soviéticas abandonadas, mas que continuam proibidas para os cidadãos, talvez devido a armamento ou outro equipamento militar que possa funcionar. Por isso, essas bases vazias são perfeitas como tocas ou territórios para os lobos e estão em zonas remotas, afastadas da população humana. Ao mesmo tempo existe um medo irracional em relação ao lobo e tal continuar existir mesmo nos dias de hoje. Isso foi um elemento que quis transmitir no filme.

É como o regresso do “Bicho-Papão”?

Sim, é como fosse o regresso da repressão, de algo que se tentaram livrar e que não conseguiram.

Por que razão não se produzem muitos filmes de terror ou fantasia na Alemanha?

Sinceramente, não sei. Provavelmente tem a haver com o sistema de financiamento na Alemanha. Nós quando queremos fazer um filme seguimos para uma agência governamental, para financiar o projeto. Por isso, para receber o financiamento, somos avaliados por este grupo de pessoas que decide o que se deve ou não filmar. Talvez a razão do género do terror não ser muito comum na Alemanha seja um ponto de vista político. Mais facilmente são aceites filmes dramáticos de cariz sociológico ou outras temáticas mais sensíveis. Penso que existem problemas a nível sociais, então o terror lúdico não é muito aceite, sendo que é necessário rever se o projecto funcionará e se o espectador conseguirá obter algo desse visionamento.

Acho que é um assunto muito político. Mas mesmo assim, nós [realizadores] temos que ter a certeza do porquê é que queremos fazer isto. No meu caso, é um filme com contornos de fábula dos irmãos Grimm. Por isso tenho que ser preciso na razão porque é que tem que ser tão negro e sangrento. Para isso temos que fazer um grande texto argumentativo. Normalmente eles dão algum dinheiro pela ideia, mas no geral é complicado, este género é uma ideia algo suicida.

Quais são os seus projetos para o futuro?

Estou a trabalhar em algo agora, pelo qual estou muito entusiasmado. Vou filmar um episódio-piloto de uma futura série que ocorre toda dentro de uma casa, um complexo, daquelas grandes casas que se pode encontrar nos limites das cidades. Dentro dela temos várias personagens, famílias todas elas diferentes, que possuem as suas tramas e conflitos. Quero avançar com algo sobre gerações, diferentes tempos e até classes sociais. É um projeto pessoal, visto que eu cresci numa destas casas. Também porque estou me a tornar num cineasta. Terminei o meu segundo filme e preciso urgentemente dinheiro para iniciar novas produções, mas também quero tentar apostar em coisas novas, demonstrar que não sou aquilo que aparento ser, nem aquilo que os outros pensam que sou. Basicamente é isso, uma nova etapa.

Você gosta de filmes de terror?

Sim, certamente.

Quais as suas preferências no género?

O meu favorito? O meu favorito de todos os tempos? É o “Texas Chainsaw Massacre”. Penso que é um filme perfeito. É um daqueles filmes que não consegue alterar nada para se tornar melhor. É o que eu penso. Adoro tudo nesse filme, até mesmo ser pouco cerebral ou não ser uma grande produção. Mas existe algo nele que me faz sentir tão certo, ao mesmo tempo perigoso, é um pesadelo. Tal como um pesadelo que eu não posso acordar. É perfeito, é tão niilista. Eu procuro sempre um filme que me faça sentir isso e o “Texas Chainsaw Massacre” consegue. É isento de esperança. É tão humanamente feio no geral. Eu adoro! 

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Por acaso, adoro vários filmes de terror, “The Exorcist” é um dos grandes! “O Sacrifício” (“Wicker Man”) é espantoso! E todos eles são dos anos 70. Faz-me pensar que essa foi a década de ouro do cinema de terror. Aí surgiu uma data de filmes, todos eles horríficos, mas nenhum seguindo uma fórmula concreta. Isso é algo que sinto faltar ao terror moderno. Sinto que nos dias de hoje tenta-se recriar as fórmulas. É como uma geração pós-Scream, toda a gente sabe as regras, mas ninguém as quebra, apenas trabalham com base nelas Eu não gosto disso. O que gosto é de ir ver um filme do qual eu não estou à espera do que vai acontecer. E pretendo ver algo chocante e surpreendente nesse termo. Algo não formatado. 

Mas ainda existem coisas boas nos tempos de hoje. Por exemplo, o "Kill List- Uma Lista a Abater”. É algo diferente dos títulos atuais, mas funciona. O que nos assusta verdadeiramente é aquilo que não conseguimos ver e nisso ele trabalha bem. Porém, eu não sou adepto do filme de psicopata, como o “teen slasher”, em que este passa o filme todo a matar pessoas. É divertido, mas não faz o meu género. E aqueles adolescentes? É cínico, mas sentimos que eles merecem. São tão estúpidos! Mas há exceções, como o “It Follows”. É o melhor slasher movie dos últimos anos. Muito bem feito, muito persuasivo. Vale a pena. Mas bem, isto tudo para dizer que adoro filmes de terror. 

Penso que não fiz um filme de terror. O meu filme não é assustador, tem elementos dignos do terror, mas não assusta. Mas também o “Wicker Man” não é verdadeiramente assustador, mas a ideia em si é pavorosa, aquela fobia gerada pelas personagens.

Animais "fornicadores"

Hugo Gomes, 02.02.15

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Num hotel de luxo, dois funcionários vivem um amor desvairado, a harmonia encontrada entre ambos é inconstante, mas essa inconstância soa como uma anarquia em todo o estabelecimento. O hotel vê com maus olhos esta relação algo autodestrutiva.

Em “Love Steaks”, de Jakob Lass, existe um impulso animalesco que o torna primariamente sedutor. Eis um filme que remete-nos à linguagem de uma nova geração de cineastas. Geração, essa, que nasceu com a proliferação dos videoclipes e da sua influência no cinema, também é esta a geração que cresceu com a ousadia e o minimalismo das produções MTV. Mas Lass evidencia mais do que preguiça em ilustrar o retrato frenético e de cariz adolescente. Invés disso, filma uma história recorrente à química dos seus protagonistas, da bizarria dos seus comportamentos e da sua cumplicidade alienada. Mas apesar do toque, fica sempre longe dos lugares-comuns ou da tentação de se rever numa trama "mainstream".

“Love Steaks” é uma panóplia de gestos, é o embate entre dois seres deslocados do seu meio ambiente, perdidos entre o rigor de um sistema estabelecido e libertinos na respetiva aura (quase soando como uma metáfora coming-of-age, embrulhado com um retrato social alusivo). Lana Cooper e Franz Rogowski expõem essa mesma química sem remorsos de pudor, sem timidez nem receio da eventual humilhação. As suas entregas interpretativas funcionam como combustão neste filme minimalista que procura ser o que todos pretendem: uma rebeldia adolescente evidente da qual não é possível fugir.

Porém, é curioso o interesse dado pelas suas personagens e a relação de ambos, tão inatural como "perfeito". Na verdade, tudo se resume a um golpe de sorte do seu realizador, Jakob Lass, que filma por instinto e usufrui de uma linguagem leve, revoltante aos modelos aristotélicos do cinema, ao mesmo tempo que aspira os códigos do espírito jovem. Um exercício de dinamismo e aptidão!