Our Vinyl Weighs a Ton: This Is Stones Throw Records (2013)
Documentário que acompanha o percurso histórico de uma das incontornáveis editoras musicais de Los Angeles, aStone Throw, conhecida pelas suas apostas radicais, marginalizadas pela grande indústria e avant-garde. São memórias dispostas em retalhos que concentram as alegrias, a fraternidade vivida nas quatros paredes daquela “label”, a tragédia, também ela marcante e a decadência dos seus próprios artistas. Temas expostos numa peça documental assinada por Jeff Broadway (produtor de “Cure for Pain”, documentário retalhista de Mark Sandman, vocalista e baixista dos Morphine, também integrado na programação do MUVI Lisboa’14), que engendra uma visual dinâmico e criativamente rigoroso, estruturado por filmagens, excertos de videoclipes e testemunhos (alguns deles insólitos).
Porém, cinematograficamente encontramos um filme formal e modelizado. Falta-lhe sobretudo inovação narrativa, alguma loucura pelo meio que invoque rasgos de devaneios artísticos e um olhar crítico mais acentuado (o “desertar” de Aloé Black para um estúdio maior era motivo suficiente para o arranque de um aguçado debate sobre a fidelização). É que sem isto, “Our Vinyl Weighs a Ton” (título retirado do incontornável álbum de DJ Peanut Butter Wolf, editado pela referida Stone Throw), é uma obra que não provoca nem incomoda, um “bonitinho” tributo capaz de despertar comoção a quem o assiste mas não a quem o verdadeiramente sente.
É ambicioso sim, nisso há que dar o mérito, mas é uma tarefa ingrata descrever anos e anos de riqueza histórica e de vivências em noventa minutos, ainda por cima se o documentário em si se preocupa mais com o seu estilo visual, os seus atributos de trabalho de edição, do que propriamente com o conteúdo. Com entrevistas a Common, Kanye West, Talib Kweli, Peanut Butter Wolf, Flying Lotus, Snoop Dog, entre outros.
Leave the World Behind (2013)
Formados pela primeira vez em 2005, este grupo de três DJs intitulados de Swedish House Mafia (Sebastian Ingrosso, Axwell e Steve Angello) foram os protagonistas de um fenómeno musical que voltou a colocar a dance house music no mapa do sucesso. Porém, algo aconteceu em 2013 e o grupo anunciou o seu fim. De certa forma, para compensar os fãs desta devastadora notícia e relembrar os "velhos tempos" enquanto grupo, decidem avançar com uma ambiciosa tour com mais 50 espectáculos por todo o Mundo, a "One Last Tour", o qual chegou a vender uns estrondosos milhões de ingressos.
“Leave the World Behind”, de Christian Larson (o homem por trás de videoclipes de alguns dos êxitos do grupo), acompanha essa mesma tour, ao mesmo tempo que tenta apurar as causas da separação do grupo responsável pelo sucesso de “Don't You Worry Child”. Em termos estruturais estamos perante de um videoclipe alargado, psicadélico e sob uma narrativa fast forward intercalada pelos testemunhos dos respectivos membros: Ingrosso, Axwell e Angello, os quais expõem os seus medos, a vontade (quase desconhecida) de terminar uma parceria com mais de oito anos e os desejos futuros que vão desde uma carreira a solo até a exclusiva dedicação às suas respectivas famílias.
Trata-se de uma obra concretizada como objecto lisonjeador de um legado pessoal, mais do que o lado artístico do trio. Assim sendo, “Leave the World Behind” é uma produção condicionada aos fãs, como qualquer programa televisivo da MTV se resumisse, descartando qualquer entrada de novos membros no fascínio colectivo. Em suma, eis uma obra visualmente sedutora, principalmente por todas aquelas imagens dos derradeiros espectáculos dados pelo grupo, mas nada de verdadeiramente imperdível para apreciadores de música em geral. Júbilo de fãs, é o que é!
Anyone Can Play Guitar (2009)
Anyone Can Play Guitar remete-nos ao boom das bandas roqueiras de Oxford, desde 1978 até aos tempos atuais. Influenciados pela onda punk dos anos 70, que de certa forma democratizaram o acto de fazer música, ao mesmo tempo que implantaram uma anarquia estrutural dentro do meio artístico, as bandas de Oxford cresceram até originar uma complexa diversidade de melodias e estilos, umas com mais sucesso que outras, mas todas elas contribuíram para colocar a cidade inglesa como a capital musical do século XX (tendo Oxford mais bandas por metro quadrado que qualquer outra cidade do Mundo). Dentro desse movimento musical, surgiram grupos como os Radiohead (provavelmente a banda mais conhecida desta manifestação), Supergrass, os "amaldiçoados" The Candyskins, Talulah Gosh, a promessa que nunca cumpriu que foram os The Unbelievable Truth e entre outros.
Um coisa é certa, conforme seja a natureza do documentário, o factor que o poderá distinguir dos demais não é o seu conteúdo, mas a forma como é exposta e elaborada a sua narrativa, e por fim avaliar se esta é ou não propícia para algum tratamento estilístico (um toque autoral e criativo aufere personalidade). A verdade é que em “Anyone Can Play Guitar” há um tema, mas o que não temos é a ousadia nem sequer a inovação de desenvolver esta imensa teia de histórias sobre o movimento musical de forma menos académica. E é sobre esse academismo que se aponta como falha neste filme escrito e dirigido por Jon Spira, o qual o transformou numa peça formalizada mas de composição quase televisiva, sem grande arte na sua concepção. Por outras palavras, a narrativa segue isenta de qualquer conflito inerte, sem a ambição para mais do que somente uma linha intercalada por entrevistas, filmagens, entrevistas e assim por diante.
Obviamente a matéria recolhida para este exemplar merecia uma disposição mais dinâmica de forma a complementar os tons de crítica que por vezes instala, mas tudo é ofuscado por uma falta de interesse em explorar as mesmas. Soa como um resumo de algo grandioso, ficando-se pela riqueza musical e pelas dignas intenções. Este é um dos casos que por vezes o conteúdo não é o suficiente se não possuir forma.
Cure for Pain: The Mark Sandman Story (2011)
Uma bateria de Billy Conway, um saxofone barítono de Dana Colley e um baixo de duas cordas tocado pelo também vocalista Mark Sandman, uma estranha composição de instrumentos que ninguém acreditaria que fosse capaz de gerar tão distinta e única música de low rock nos anos 90. Tinha o nome de Morphine, uma banda norte-americana que ficou célebre pela alienação dos seus sons, pelo estranho conjunto de instrumentos e pelo carisma do reservado Mark Sandman, o qual este documentário dirigido pela dupla Robert Bralver e de David Ferino e produzido por Jeff Broadway dedica por completo.
“Cure for Pain: The Mark Sandman Story” (alusão aquele que foi para muitos o melhor e inovador dos álbuns da banda) nos apresenta de forma poética, envolvente e explicita a vida deste artista completo e talentoso, o seu passado marcado pela tragédia familiar, o sucesso mundial da banda e a influência da sua música na sociedade dos anos 90 até chegar a sua literal queda em palco derivado a um ataque cardíaco que o vitimou durante um concerto em Palestrina, Itália em 1999.
Conservado a aura mítica envolto da figura retratada, o documentário consegue ser emocionante nos seus testemunhos e na transposição da união do seio musical quando um dos seus membros os deixou sob circunstâncias abruptamente trágicas e dramáticas. Um tributo algo obrigatório para todos os fãs da banda e não só, amantes de música em geral, onde a imagem de Sandman é restaurada e abordada tal como ela é, sem embelezamentos e bajulações exageradas. Uma personalidade misteriosa a descobrir a todo o custo. Ainda somos presenteados com entrevistas de Ben Harper, Josh Homme (vocalista e guitarrista de Queen of the Stone Age), Mike Watt (baixista dos The Stooges) e Les Claypool (Primus).