O regressar às trevas do Homem-Morcego!
Traumatizado com o assassínio dos seus pais, Bruce Wayne (Christian Bale), o herdeiro de um património incontável de Gotham City, percorre meio mundo em busca da sua identidade perdida ou em todos os casos a vingança que sempre havia pretendido. Wayne vai ao encontro da temível Liga Das Sombras, uma organização semi-terrorista em defensa da justiça e na luta da corrupção, com intuito de se tornar num homem mais forte e capaz de enfrentar os seus próprios medos. Alguns anos depois, o herdeiro perdido regressa à cidade natal, trazendo consigo inspirações e ideias na luta de tudo aquilo que tornou Gotham numa cidade suja e corrupta. Batman foi o resultado desses mesmos ideais.
Quando falamos de Batman no cinema, logo referimos a duas versões distintas e caracterizadas por tons singulares, a primeira é uma comédia camp com Adam West num travestido homem-morcego numa versão de 1966, a segundo surgiu em 1989 com Tim Burton a provar o Mundo que as adaptações dos “heróis aos quadradinhos” são mais do que meros filmes familiares, mas no seu caso podendo bem ser obras de acção com criatividade cénica e atmosférica. Na pele do “cavaleiro das trevas” encontramos um Michael Keaton sombrio que se repetiu numa sequela em 1992, novamente dirigida por Burton. A visão gótica do herói da DC Comics foi seguida por duas sequelas que de certa forma levaram Batman para os seus “dias mais negros”, ele são Batman Forever (1995) e o “horrendo” Batman & Robin (1997), a “gota de água” de um franchising que até somou êxitos. Ambos dirigidos por Joel Schumacher, cuja carreira não foi a mesma desde o triste episódios de 1997, onde confundiu criatividade com exaustão de neons, luz e muita core, uma narrativa “empapada” com excesso de informação e as acusações de fetichismo gay que advém de pormenores inúteis como um fato com mamilos utilizado por Batman e um igualmente apertado no seu sidekick Robin (interpretado por Chris O'Donnell), até “close-ups” duvidosos a fita continha. Batman & Robin acabou por se tornar num fiasco em consideração de um prejudicial “passa-palavra”, chegando a difamar a própria série e o herói em questão no cinema, salvo apenas através da originalidade trazida pelos na Banda Desenhada.
Foram precisos oito anos para que um dos mais famosos e incontornáveis figuras de banda desenhada conseguisse ignorar os “incidentes” e regressar ao grande ecrã, e verdade seja dita, o fez da melhor maneira possível. Christopher Nolan (Memento, Insomnia) é o responsável por este reboot que devolve as “trevas” a Batman, que em conjunto com David S. Goyer reuniram as mais interessantes histórias do seu legado de banda desenhada dos últimos anos, nomeadamente o aclamado The Dark Knight de Frank Miller, que redefiniu a série literária. Nolan “injectou” neste herói o realismo, as influências do neo-noir e acima de tudo a credibilidade, resultando num ambiente surpreendentemente simbiótico para um personagem de BD no cinema. Assim, Batman de “orgulho ferido” poderá finalmente erguer das trevas como era pretendido.
Um filme de acção vibrante e de uma força única que capta o melhor ambiente do cinema policial à moda antiga, mais do que o suposto “pastiche” da banda desenhada. Nolan reuniu um elenco de luxo na transposição dos conhecidos personagens de sempre, tendo o mutável Christian Bale na pele de Bruce Wayne e o alter-ego Batman (não é o melhor “cavaleiro encapuçado” mas confessa-se, é capaz de transmitir o seu lado mais negro e violento, contudo comporta-se como melhor Bruce Wayne, um dos objectivos a ser “rompidos” aqui). Para além da revelação de American Psycho (2000) e The Machinist (2004), Batman Begins presenteia-nos actores de calibre como Michael Caine (melhor Alfred não há!), Morgan Freeman (uma espécie de Q dos filmes do James Bond), Tom Wilkinson, Liam Neeson, Gary Oldman, um desperdiçado Ken Watanabe, um flexível Cillian Murphy como o vilão Scarecrow (O Espantalho na língua de Camões) e uma quase ruinosa Katie Holmes apresentando-se como um par romântico fraco envolvido com uma interpretação deslocada.
Engenhoso e sedutoramente negro, Batman – O Inicio (titulo traduzido) é uma das mais sólidas adaptações da BD, e por mais que me custe dizer isto, é na minha opinião o melhor Batman feito para o cinema (perdoe-me fãs de Tim Burton). Nolan consegue ressuscitar um herói tão mal tratado pela indústria cinematográfica e atribuir-lhe um porto de abrigo, todavia nota-se que o realizador não possui a mesma visão de Gotham que de Tim Burton, apresentando-a como uma previsível cidade ausente de misticismo. Nota final para a pomposa banda sonora de Hans Zimmer. Para finalmente esquecermos dos dois desastres de Schumacher e os seus “fatos com mamilos”.
“You must become more than just a man in the mind of your opponent.”
Real.: Christopher Nolan / Int.: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Katie Holmes, Gary Oldman, Cillian Murphy, Tom Wilkinson, Rutger Hauer, Ken Watanabe, Mark Boone Junior, Linus Roache, Morgan Freeman, Larry Holden
Arquivo de Criticas
Outras Categorias
Sites de Cinema
CineCartaz Publico